Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Eduardo Gudin: ‘Escapamos de um buraco e fomos salvos pelos poros do Nordeste’

O cantor e compositor paulista fala da ditadura e da criação de recém-lançado site com músicas suas com partituras, letras e cifras

Foto: Joana Gudin
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Eduardo Gudin tem uma relação de parceiros de dar inveja: Aldir Blanc, Adoniran Barbosa, Arnaldo Antunes, Arrigo Barnabé, Cacaso, Caetano Veloso, Costa Netto, Elton Medeiros, Francis Hime, Guinga, Ivan Lins, Nelson Cavaquinho, Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola, Paulo Vanzolini, entre outros. 

O músico possui uma obra com características singulares, tanto como melodista, sua especialidade, como letrista, ao lado de gente conhecida na lida como compositor, como relacionado.

Uma parte importante do seu acervo foi disponibilizada ao público no site www.obrascompletas.eduardogudin.com. São 150 músicas com as letras e cifras (em 2 volumes), além de partituras (em outros dois volumes) escritas à mão pelo próprio Gudin. “Ficou mais pessoal do que se tivesse escrito pelo computador”, diz.

São músicas compostas em mais de 50 anos de carreira e 18 álbuns lançados pelo cantor, compositor, violonista, arranjador e produtor. 

Estão lá no site a obra-prima Verde, que lançou Leila Pinheiro; Paulista, sucesso na voz de Vânia Bastos – as duas composições são com Costa Netto -; Lá Se Vão Meus Anéis, gravada pelos Originais do Samba; A Velhice da Porta-Bandeira,  registrada pelo MPB4; Mordaça – todas essas com Paulo César Pinheiro – e Ainda Mais, com Paulinho da Viola.

“A minha música, por mais simples que  seja, não é previsível”, diz. “Primeiro achei que isso era um defeito, mas é o que me dá a característica”. 

As harmonias estão no site como Gudin as compôs. Ele diz que nem sempre a gravação de músicas saiu como foi composta.

Verde nem se fala”, conta. Muito tocada em barzinho com voz e violão até hoje, Gudin diz nunca ter ouvido nesse ambiente a harmonia como ela é. “Até a gravação da Leila Pinheiro que fez sucesso não é exatamente igual como compus”, revela ao citar a pequena passagem da canção que tem uma alteração harmônica.

Mordaça, que também está no projeto, faz parte de um show de 1974 que Gudin fez com Marcia e Paulo César Pinheiro e cujo título é um trecho da composição: “O importante é que a nossa emoção sobreviva”.  

“Mordaça era a última música do show. A gente cantava e a frase ‘o importante é que a nosso emoção sobreviva’ era falada por último e a luz do teatro acendia (indicando o fim do espetáculo). Esse final a gente não podia fazer toda hora. De vez em quando a censura estava lá na plateia”, recorda.

Gudin conta que o show chegou a ter música que tinha sido censurada e as apresentações foram feitas numa época muito difícil da ditadura. O músico teve composições proibidas de execução naquele período, como a feita em parceria com Sérgio Natureza, chamada Fábula, que foi lançada em seu último álbum Valsas, Choros e Canções. “Ela fala das pessoas que morreram durante a ditadura”. 

Eduardo Gudin tem esperança de que o País vai respirar de novo. “A gente escapou de um buraco. Sinto que as pessoas não têm a ideia exata. A gente foi salva pelos poros do Nordeste, essa é a verdade”, afirma sobre as últimas eleições. “Daqui para frente tem que ficar atento, porque isso não acabou”. 

Assista a entrevista de Eduardo Gudin a CartaCapital na íntegra:

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