Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Dori Caymmi: ‘As pessoas não estão mais a fim de parar para ouvir música’

O compositor, cantor e arranjador apresenta ‘Prosa e Papo’, um álbum com reminiscências da infância

Foto: Myriam Villas Boas.
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Em vez de apostar em um disco-tributo, como muitos artistas fazem em datas comemorativas, Dori Caymmi optou por lançar um álbum de inéditas aos 80 anos.

“A maioria das pessoas está fazendo isso. É moda. Mas não tenho essa quantidade de sucessos que alguns compositores possuem para reler minha obra”, afirma.

Dori gosta de compor, e sua obstinação cria ainda mais possibilidades para apresentar trabalhos originais.

Prosa e Papo (Biscoito fino), novo álbum do compositor, cantor e arranjador, tem 11 canções, oito delas inéditas – as outras três são do disco que lançou com Mônica Salmaso, Canto Sedutor (2022).

O disco tem as participações da própria Salmaso e de Joyce Moreno, MPB4, Zé Renato, Renato Braz e João Cavalcanti. A produção é de Jorge Helder.

Nove canções do disco são da parceria de Dori com Paulo César Pinheiro. Os dois compõem juntos há mais de 50 anos.

“Ele é meu compadre, uma pessoa querida. É um poeta que fala como pernambucano, como baiano, como mineiro. Tem uma cultura regional impressionante. Ele é meu parceiro de cabeceira. Meus dois irmãos são Danilo (Caymmi) e Paulo César Pinheiro.”

O novo trabalho tem reminiscências da infância de Dori. “São coisas que meu pai (Dorival Caymmi) dizia e que marcaram a minha vida. Ele falava muito: ‘carrapicho é mato, carrapato é bicho’. Aí falei com Paulo César: ‘vamos fazer uma letra com esse contraste’. Ficou lindíssima.”

A canção virou a faixa-título: Prosa e Papo. “Um dos versos de que gosto muito é quando diz ‘candidato é sujo, eleitor é pato’”, comenta.

Outra música do álbum que vem das memórias de infância é Chato. “A letra saiu de uma frase que o velho dizia, quando a gente estava aporrinhando ele: ‘entre por onde saiu e faça de conta que nunca me viu’. Então, pedi ao Paulinho (César Pinheiro) uma letra e eu musiquei.”

Apesar disso, Dori conta que Dorival era brincalhão.

Roberto Gigio, compositor em ascensão e genro de Paulo César Pinheiro, assina com Dori duas músicas no disco. Uma delas homenageia Mercedes Sosa. “É uma cantora que me impressionou sempre. Nunca vi uma mulher com tanta personalidade. O Roberto divide esse amor que a gente tem por ela. Tinha muita admiração pelo trabalho dela”, diz Caymmi.

Outra faixa da dupla Dori-PC Pinheiro é Um Carioca Vive Morrendo de Amor.Pedi a ele para fazer sobre o Rio de Janeiro. A gente sempre falou da cidade com muita tristeza nos últimos anos. Então, disse para o Paulo César que tem que fazer uma música mais otimista.”

O músico, aliás, diz ter feito um disco otimista depois de muitos anos. Isso, porém, não tirou a oportunidade de fazer críticas à produção musical atual.

“A música brasileira subiu no caminhão. Ela está no trio elétrico, entretenimento, muito bailarino, que lembra o Michael Jackson, cheio de dançarino”, avalia. “As pessoas não estão mais a fim de parar para ouvir música. A gente não tem mais esse público. A internet trouxe uma perda de identidade muito grande.”

“Sou muito brasileiro. Acredito no Noel (Rosa), no Ari (Barroso), no Tom Jobim, no meu pai, no Pixinguinha, no Braguinha. Gosto dessas pessoas.”

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