Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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‘Cena musical LGBT no Brasil começou de forma intensa’, diz Assucena

Depois de três bons álbuns pelo grupo As Baías, cantora e compositora se lança na carreira solo com disco harmonioso e voz potente

Foto: Natalia Mitie/Divulgação
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Quando veio o anúncio do fim do trio As Baías – que antes se chamava As Bahias e a Cozinha Mineira – em 2021, Assucena buscou Céu para gravar seu primeiro disco solo. A cantora topou e integrou o companheiro Pupillo à produção musical, mais tarde composta também por Rafael Acerbi (ex-membro de As Baías).

O resultado é o disco recém-lançado Lusco-Fusco, com dez faixas autorais (só uma em parceria com o pernambucano Paulo Netto), marcadas por um som harmonioso, contemporâneo e bem encaixado à potente voz de Assucena.

A cantora conta que a construção do álbum começou em 2021 e tinha outras ideias “que conversavam com o Brasil de antes da eleição e a tristeza que a gente viveu de uma pandemia desgovernada, uma falta de gerenciamento público, uma crise sanitária, sem projeto para gerir algo tão inédito”.

Contudo, foi mudando após a eleição e “perdendo esse contato com o que foi”. Segundo ela, o álbum tornou-se mais romântico.

“As metáforas românticas que estão ali têm a ver com a vida de uma mulher trans. As pessoas LGBT em geral têm o amor como ato político justamente porque o afeto nos é negado”, diz.

O álbum ressalta nas canções a definição de lusco-fusco, a transição da noite para o dia e vice-versa.

“Essa questão da transição (no disco) é de corpos travestis, de um Brasil que se apaga, de um Brasil que se acende. Lusco-Fusco veio para brincar com o transitório.”

Assucena conta que o trabalho solo foi um grande desafio.

“As Baías foram muito importantes. Mas uma carreira em grupo é muito diferente da carreira solo. Em grupo você divide seus anseios. Há uma intersecção e alinhamentos de conceito, de visão de tarefas. No solo você carrega todos os ônus e bônus”, diz.

Assucena afirma que tentou destacar seu jogo poético composicional com a sua voz expansiva. E o dedo de Pupillo, um dos grandes produtores no País, foi fundamental nessa junção, impondo uma sonoridade harmônica com a interpretação da cantora de forma bem-sucedida – e colocando o álbum na lista dos melhores do ano.

Tendo Gal Costa como espelho musical, foi a partir do clássico álbum Fa-Tal (1971) que Assucena despertou para realizar projetos de shows em torno da obra da baiana.

Fa-tal foi um susto. Um susto estético, um susto sonoro. É um disco contracultural. É um disco que ela teve a coragem de lançar mesmo com tudo aquilo que a gente poderia chamar de defeito”, diz.

A organização institucional de diversos movimentos nas últimas duas décadas, com forte auxílio da internet, é apontada por Assucena (que cursou História na USP) como facilitador para que os LGBTs afirmassem sua existência e dialogassem com o governo.

Ela lembra que não existia na música, ou pelo menos não era visível, um grupo tão ligado à causa ou que se apresentava como tal.

“A cena LGBT no Brasil é muito interessante porque só aqui se começa de forma tão intensa, tanto no mainstream quanto na cena alternativa. Você tem Pablo Vittar, Gloria Groove, Liniker, As Bahias e Cozinha Mineira, Jaloo, Linn da Quebrada, Jup do Bairro. É uma cena muito poderosa, porque ela é muito colorida”, avalia.

“A gente (a cena LGBT) se entende mais no conteúdo do que na forma. As Baías eram muito menos aceitas como mulheres trans do que Linn da Quebrada, porque vinham de uma ideia de marginalidade. ‘Trans não pode cantar MPB (como é o caso de As Baías), trans tem que cantar coisas marginais.'”

Assista na integra a entrevista de Assucena a CartaCapital:

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