Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Biografia do pianista Nelson Freire mostra sua relevância no exterior e a agonia no fim da vida

Obra recém-lançada lança luz sobre um dos maiores músicos brasileiros, de reconhecimento internacional

Foto: Divulgação
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Um grande músico brasileiro, mas que poucos por aqui conhecem. O livro Nelson Freire: o segredo do piano (DBA, 232 páginas) é uma boa chance de aprofundar as informações, principalmente sobre sua relevância internacional.

A obra recém-lançada no Brasil e originalmente publicada na França, é do jornalista francês especializado em música clássica Olivier Bellamy, com uma narrativa romanceada que revela um pianista exuberante, respeitado e ao mesmo tempo discreto e simples.

Com um profundo conhecimento, o autor faz uma descrição detalhada da trajetória de Nelson Freire pelo mundo – notadamente pela Europa, onde fixou residência -, das principais apresentações, dos teatros por onde passou, dos concursos de que participou e venceu, dos diversos álbuns lançados e dos pianistas e maestros de seu convívio, a maioria de importância inequívoca no universo de concertos.

Nascido em Boa Esperança, interior de Minas Gerais, Nelson Freire tem uma obra marcada pela fidelidade de execução às partituras, com clareza, precisão, leveza e uso variado dos pedais.

Prodígio, buscou aperfeiçoamento constante, embora não gostasse de se meter em longos períodos de estudos. No livro, a impressão é que ele se aplicava seguindo seu próprio tempo.

Os casos amorosos com outros homens, alguns mais jovens que ele, também são tratados sem meneios, já que, apesar de discreto, o pianista brasileiro mantinha seus parceiros ao lado em qualquer circunstância.

Peças de Bach, Beethoven, Brahms, Chopin, Debussy, Liszt, Villa-Lobos e muitos outros eram executadas por Nelson Freire com maestria, seja no piano solo, a quatro mãos, em dois pianos, em música de câmara ou de orquestra.

Dono de uma personalidade introspectiva, ele gostava de se sentir amado, mas não era vaidoso nem buscava holofotes. Também não concedia entrevistas – e o autor do livro revela as agruras de falar com seu personagem.

O livro conta diversas passagens do pianista no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, onde mantinha residência. Aliás, foi na capital fluminense, já com mais de 70 anos, que as coisas desandaram rapidamente.

Em 2019, ele caiu no calçadão na Barra da Tijuca e teve fraturas múltiplas no braço direito, o que exigiu a instalação de uma prótese. Um ano depois, escorregou no chão molhado perto da piscina em sua casa e quebrou a mão esquerda. Em 2021, uma terceira queda no imóvel o levou à morte, aos 77 anos.

O relato no livro sobre os últimos anos de vida de Nelson Freire é revelador. Em depressão, não só pelos acidentes, mas pela morte de pessoas próximas, ele foi consumido.

O livro é respeitoso com a magnífica obra de Freire, um dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos.

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