Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Após susto com a saúde, Moacyr Luz diz que compor virou uma obsessão

Cantor e compositor lançou álbum com Pierre Aderne e prepara novo disco da emblemática roda do Samba do Trabalhador

Foto: Leo Aversa
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“Achei que fosse morrer”, diz Moacyr Luz sobre o dia em que foi parar no hospital, em março deste ano, com insuficiência respiratória. “Antes, só fazia música de dia. Agora, faço de dia e de noite. Estou virando um obcecado por compor.”

Segundo o artista, que sofre da doença de Parkinson, a composição passou a interessar mais até do que fazer shows. “Desaprendi a fritar ovo, não sei mais ler jornal, não vejo mais televisão. Só sei fazer música”, resume.

Mas nem por isso os projetos pararam. São vários, com diferentes parceiros. Um deles saiu dias atrás e segue a linha musical refinada de Moacyr Luz.

Trata-se do álbum Mapa dos Rios (selo Mestre Sala/The Orchard), feito com o também cantor e compositor Pierre Aderne, que mora há mais de dez anos em Portugal. Com melodias de Moacyr e letras de Pierre, o disco de dez faixas percorre bairros, ruas, características, laços e traços do Rio de Janeiro e de Lisboa em tom de crônica musical.

Enquanto um é expert nos becos cariocas, o outro promove na Europa a fusão entre a música brasileira, a portuguesa e a da África lusófona no projeto Rua das Pedras.

O novo trabalho é de muito bom gosto, com pouco de bossa – “samba de vassourinha”, como cita Moacyr Luz, em uma referência à baqueta de vassourinha, que tira um som mais leve e suave do instrumento percussivo. “Estou levando muita fé nesse disco, de samba mais dolente.”

Na onda desenfreada de compor, Moacyr conta que dia desses se viu às 4 horas da madrugada ao telefone com Xande de Pilares fazendo uma música.

Uma canção com Zeca Pagodinho será registrada no novo disco da roda do Samba do Trabalhador (a ser gravado em julho), além de uma inédita com Aldir Blanc, seu parceiro em alguns sucessos.

O Samba do Trabalhador, com 18 anos, vai para seu sexto álbum. O grupo já foi laureado três vezes com o Prêmio da Música Brasileira e indicado uma vez ao Grammy Latino.

A roda do Samba do Trabalhador, realizada em um clube no bairro do Andaraí, na Zona Norte do Rio, atrai um público acima de mil pessoas a cada segunda-feira. No último 1° de maio, foram cerca de 2.600 pagantes.

“Nunca fiz um cartaz de divulgação da roda, nunca fiz uma filipeta. No entanto, estamos aí”, conta Moacyr Luz, criador e à frente do projeto até hoje. “O que era para dar errado numa segunda-feira jogou a favor, despertou a curiosidade das pessoas. Quando o cara chegava lá, descobria que tinha repertório ali. Eram músicas que as pessoas não estavam ouvindo em outros lugares.”

O Samba do Trabalhador, a propósito, se apresentará pela primeira vez no exterior. Será em Portugal, em outubro.

Moacyr Luz tem ido à Europa para mostrar seu trabalho solo. O disco com Pierre Aderne, parcialmente gravado em Portugal, tem ajudado a solidificar essa ponte com o Velho Continente.

Há diversos outros projetos de Moacyr em andamento, a ressaltar uma característica de tocar múltiplas coisas ao mesmo tempo. “Não fico esperando no sofá vir a ideia. Corro atrás dela.”

Um desses trabalhos está em realização com Marcelinho da Lua, enquanto outro segue em desenvolvimento com Paulinho “Pauleira” Malaguti, do MPB4. Moacyr também está produzindo dois discos novos do cantor Augusto Martins, um deles em voz e violão com Hélio Delmiro.

Com provável estreia no Festival do Rio, também deve ser lançado neste ano o longa-metragem Moacyr Luz, Embaixador dessa Cidade. O documentário contará a história do artista e oferecerá depoimentos de Zeca Pagodinho, Maria Bethânia e Fafá de Belém – as duas foram intérpretes de canções do compositor. A vida segue intensa e reluzente para Moacyr Luz.

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