Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Lô Borges foi tão importante quanto Milton Nascimento no mais destacado álbum brasileiro
Cantor e compositor, que faleceu na noite deste domingo 2, deixa composições emblemáticas
O cantor e compositor Lô Borges morreu na noite deste domingo 2, aos 73 anos. Ele estava internado desde o dia 17 de outubro no Hospital Unimed, em Belo Horizonte, cidade onde nasceu, para tratar de um quadro de intoxicação medicamentosa.
Lô Borges teve papel central na inovação do disco mais importante da música brasileira de todos os tempos, o álbum duplo Clube da Esquina (1972). Não à toa que o aclamado trabalho tem seu nome ao lado do de Milton Nascimento, que na época do lançamento já era um artista de renome.
Era dado a experimentações e, apesar de muito jovem quando trabalhou na produção do célebre álbum – tinha apenas 19 anos –, já compunha melodias sofisticadas.
No disco, além de surgir como intérprete em seis faixas, foi autor de canções que se tornaram emblemáticas, como Tudo que Você Podia Ser, Um Girassol da Cor do seu Cabelo, Trem de Doido (todas com o irmão Márcio Borges), O Trem Azul (com Ronaldo Bastos), Nuvem Cigana (com Ronaldo Bastos) e Paisagem da Janela (com Fernando Brant).
Com Milton Nascimento, no clássico disco, assinaria a música instrumental Clube da Esquina 2, que receberia brilhante letra de Marcio Borges em 1979.
O fato é que Bituca, com a sua sensibilidade, apostou no jovem Lô Borges. Ele já tinha mostrado a cara na canção Para Lennon e McCartney (em parceria com o Márcio Borges e Fernando Brant), que Milton gravou no disco anterior ao Clube da Esquina e onde sentiu a potência do grupo. Nesse mesmo álbum, ainda gravaria as músicas de Lô – menor de idade, na época – intituladas Clube da Esquina (com próprio Milton e Márcio Borges) e Alunar (com Márcio Borges).
Com o sucesso do disco Clube da Esquina, no mesmo ano lançaria um álbum solo com o seu nome que ficou conhecido, pela imagem de capa, como “disco do tênis”. O trabalho completamente experimental e psicodélico não fez o sucesso esperado, mas marcou pela ousadia. Entre os discos solos de Lô Borges se destacam A Via Láctea (1979) e Sonho Real (1984).
Além de Milton, muitos intérpretes gravaram suas canções, como Nana Caymmi, Simone, Gal Costa e Elis Regina. Outras composições que se tornaram sucesso na música brasileira são Feira Moderna (com Fernando Brant e Beto Guedes), Sonho Real e A Via-Láctea (ambas com Ronaldo Bastos), Quem Sabe isso quer Dizer Amor (com Márcio Borges) e Dois Rios (com Samuel Rosa e Nando Reis).
Lô Borges compunha quase compulsivamente e vinha lançando desde 2019 um disco de músicas inéditas por ano. O último foi Céu de Giz (2025), com letras de Zeca Baleiro.
Dessa série final de álbuns, destaque para o excelente Muito Além do Fim (2021), onde todas as composições são em parceria com Márcio Borges. Nesse disco Lô expõe com o irmão o que é dominar o processo de fazer canção, com letras “encaixadas” com as melodias, trazendo uma sensação sonora revigorante e leve, como sempre fez.
Com sua partida, Lô se junta a Fernando Brant e Tavito, dois outros próceres do Clube da Esquina falecidos.
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