Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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50 anos do Clube da Esquina: ‘Devo muito ao Milton Nascimento’, diz Lô Borges

Gravadora chegou a questionar Milton sobre fazer um disco duplo com um então ‘desconhecido’

Foto: Reprodução Redes sociais
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Considerado um dos mais importantes registros fonográficos da música brasileira de todos os tempos, o álbum duplo Clube da Esquina completa 50 anos em 2022. O disco de 21 faixas tem autoria de Milton Nascimento e Lô Borges, com a participação ativa de Beto Guedes, Marcio Borges, Ronaldo Bastos e Fernando Brant, além de Toninho Horta, Tavito, Nelson Angelo, Wagner Tiso, entre outros.

O trabalho trouxe inovações melódicas e novas abordagens rítmicas, em que Milton e Lô são figuras centrais, expressadas nas composições gravadas, como Cais, Cravo e Canela, Um Gosto de Sol, Nada Será como Antes (Milton e Ronaldo Bastos), O Trem Azul (Lô e Ronaldo), Tudo o que Você Podia Ser, Um Girassol da Cor de seu Cabelo (Lô e Marcio Borges), Paisagem da Janela (Lô e Fernando Brant), entre outros clássicos.

“O Clube da Esquina foi um acontecimento fundamental da minha vida. Eu era muito jovem. Eu devo muito ao Milton Nascimento. Foi o cara que apostou em mim quando era um ilustre desconhecido. Ele gostava das coisas que eu fazia”, lembra Lô Borges.

Foi no quarto disco solo de Milton Nascimento, de 1970, que Bituca gravou a primeira composição de Lô (com letra do irmão Marcio e Fernando Brant): Para Lennon e McCartney. Naquela época, Lô tinha apenas 17 anos.
“A música fez sucesso e isso tudo conspirou pra gente ser parceiro. Segundo Milton, meu santo bate com a composição dele”, afirma Lô.

“Ele podia ter convidado outra pessoa [para fazer o disco Clube da Esquina]. Há participação de várias pessoas experientes no álbum. Mas ele me colocou para dividir, como coautor. Tenho maior orgulho. Foram oito músicas que fiz para o disco”, conta.

Lô Borges lembra que a gravadora foi quase contra o disco porque ele era duplo, algum incomum. Na época, foi feito um só álbum desse tipo: o Fa-Tal (1971), da Gal Costa.

“A gravadora achava que Milton estava viajando. Ele queria fazer um álbum duplo com um desconhecido, que a gravadora nunca tinha ouvido falar, um tal de Lô Borges. E ele bancou isso”, lembra Lô.

“Aí o Milton disse: Se vocês não toparem esse projeto, eu troco de gravadora. Ele já era consagrado e quando a gravadora começou a ouvir as músicas, aí falaram: as músicas do cara que o Milton está apostando são legais”.

No fim, a gravadora ofereceu um contrato a Lô para produção de um álbum solo no mesmo ano de 1972, o primeiro da carreira dele, chamado Disco do Tênis.

“Fiz um trabalho experimental, psicodélico, caótico. Eles acharam que tinha um repertório parecido com o Clube da Esquina, mas não tinha. Assinei contrato pelo desafio juvenil. Eu fazia música de manhã, o Marcio fazia letra a tarde e a gente gravava à noite”, recorda.

Texto com detalhes sobre a concepção do emblemático disco Clube da Esquina foi publicado em CartaCapital aqui.

Novo álbum

Lô Borges tem lançado desde 2019 um disco de músicas inéditas por ano. Dias atrás, ele lançou o de 2022. O novo trabalho tem o nome de Chama Viva (gravadora Deck) e conta com as participações de Milton Nascimento, Beto Guedes e Paulinho Moska.

As dez faixas do registro são melodias dele e letra da escritora Patricia Maês – ela canta também em uma faixa do disco. Lô já havia composto cinco músicas com a Patricia no disco Horizonte Vertical (2011).

“Os convidados do disco surgiram no final porque achei que estava produzindo um álbum sinfônico. O disco estava quase indo para mixagem quando chamei os convidados”, conta.

Lô compôs sete músicas do novo trabalho em sete dias, usando órgão como base para as composições pela primeira vez na carreira, que também completa 50 anos. As outras três foram saindo depois, “com mais calma”, completando o disco.

O cantor compõe quase compulsivamente. “O que acho mais importante na minha carreira é a composição. Gosto de palco, que é muito legal, o contato com o público, mas a composição é quando você tá nu com sua música. Tem que ter muita dedicação, inquietação artística”, diz.

Milton e Beto são amigos de longa data de Lô. Patricia chegou a ser sua companheira numa época da vida. Já Moska, ele conta ter grande admiração.

Paulinho Moska havia participado de seu último trabalho, o excelente Muito Além do Fim (2021), em que os dois gravaram a faixa-título – nesse álbum, destaca-se, todas as composições são de Lô com o irmão Marcio, demonstrando ambos absoluto domínio da realização da canção.

O trabalho Chama Viva conta ainda com Henrique Matheus (guitarras), Thiago Corrêa (contrabaixo, teclado e percussão) e Robinson Matos (bateria).

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