Justiça
Da prioridade ao fracasso: PEC da Blindagem naufraga após racha no Centrão e recuo do PL
Rejeição popular, desgaste interno e falta de consenso inviabilizam avanço da proposta que buscava restringir investigações contra congressistas


A PEC da Blindagem, que pretendia restringir a atuação da Justiça em processos contra deputados e senadores, perdeu força na Câmara dos Deputados após enfrentar uma série de reveses políticos e forte rejeição da opinião pública nestes últimos dois dias. O texto, defendido inicialmente por partidos da oposição ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e por setores do Centrão, naufragou após a falta de acordo para votação na quarta-feira 27 e já não é visto como prioridade por seus principais patrocinadores.
O primeiro fator decisivo foi a reação popular contrária. Termos como “Congresso contra o povo” e “PEC da impunidade” dominaram os trending topics do X (antigo Twitter), somando mais de 1,2 milhão de menções apenas na manhã de quinta-feira 28. A pressão da opinião pública acendeu um sinal de alerta entre congressistas.
O segundo ponto foi o racha no Centrão. Partidos como MDB e PSD abandonaram o apoio, com líderes como Baleia Rossi e Gilberto Kassab declarando-se contrários ao texto. O relator, Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), chegou a ameaçar deixar a função diante da tentativa de incluir trechos mais duros, considerados “inconstitucionais” e “exagerados”, como a exigência de quórum de dois terços no Supremo Tribunal Federal para punir deputados e senadores.
Outro fator crucial foi o recuo do PL, partido de Bolsonaro e maior bancada da Casa. Até então entusiasta da proposta, o líder da legenda, Sóstenes Cavalcante (RJ), anunciou que a sigla deixará de ser protagonista no debate, acusando adversários de “politicagem barata”. O PL, agora, pretende concentrar esforços na tentativa de aprovar o fim do foro privilegiado e uma anistia ao ex-presidente e aos golpistas de 8 de Janeiro de 2023.
Por fim, prevaleceu a avaliação de que o cenário de aprovação se tornou inviável. Deputados afirmaram que o momento para aprovar a proposta era a votação rápida de quarta-feira, antes do desgaste maior na imprensa e nas redes. Como isso não ocorreu, o próprio presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ficou enfraquecido após não conseguir viabilizar a deliberação. Agora, mesmo que volte à pauta, a tendência é que a PEC só avance em versão mais enxuta.
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