Justiça
Ciro Gomes é condenado a indenizar prefeita a quem chamou de ‘cortesã’
A Justiça entendeu que as declarações ultrapassaram os limites do discurso político e atingiram a dignidade de Janaína Farias


O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) foi condenado a pagar 52 mil reais por danos morais à prefeita de Crateús (CE), Janaína Farias (PT), em razão de falas proferidas por ele durante quatro entrevistas concedidas em abril e maio de 2024. A sentença, em primeira instância, é assinada pela juíza Priscila Faria da Silva, da 12ª Vara Cível de Brasília.
As declarações de Ciro – nas quais ele se referiu à prefeita como “assessora de assuntos de cama”, “cortesã” e ainda sugeriu que ela organizava “farras” para o ministro da Educação, Camilo Santana – foram consideradas “misóginas, injuriosas e ofensivas à dignidade da mulher”. Na época das entrevistas, Janaína atuava como senadora suplente, no lugar de Santana, licenciado para assumir o ministério no governo Lula (PT).
A Justiça entendeu que o conteúdo ultrapassou os limites do discurso político, configurando abuso da liberdade de expressão. Em um dos trechos mais duros da sentença, a juíza escreveu:
“As falas expostas nas entrevistas qualificam a requerente com termos ofensivos e depreciativos, inclusive com conotação de gênero, comprometendo a sua imagem pública e pessoal, e, por conseguinte, afetando sua honra, dignidade e reputação. […] As ofensas desqualificam a competência da autora como profissional, não com palavras referentes à sua formação ou experiência profissional […], mas com adjetivos e colocações que aludem até mesmo à promoção da prostituição.”
A defesa de Ciro tentou tirar o processo do Distrito Federal, alegando que o foro competente seria o do Ceará, domicílio da autora. Também afirmou que as críticas miravam Camilo Santana, e não diretamente a prefeita. Ambos os argumentos foram rejeitados pela magistrada.
A juíza também manteve medida de urgência que proíbe Ciro Gomes de repetir expressões semelhantes, sob pena de multa de 30 mil reais por nova infração. Ainda cabe recurso da decisão.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Justiça manda penhorar caminhonete de Ciro Gomes por dívida com advogados
Por CartaCapital
Qual é a relevância de Ciro Gomes na arena política cearense?
Por Monalisa Torres