Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

Advogado

Opinião

O enforcamento de Alexandre de Moraes e o 8 de Janeiro

É constrangedor e inquietante ouvir a sua declaração sobre uma hipótese tão bárbara. E o ministro tem, é evidente, conhecimento do que ocorreu

O enforcamento de Alexandre de Moraes e o 8 de Janeiro
O enforcamento de Alexandre de Moraes e o 8 de Janeiro
O ministro do STF Alexandre de Moraes. Foto: Rosinei Coutinho/STF
Apoie Siga-nos no

É preciso que haja algum respeito, ao menos um esboço ou a dignidade humana se afirmará a machadadas” – Torquato Neto, poema do Aviso Final

Muito impactante a entrevista do ministro Alexandre de Moraes dizendo que teve informação de que os golpistas tinham como uma das opções, após o 8 de Janeiro, enforcá-lo na Praça dos Três Poderes. Por mais que imaginássemos a possibilidade da extrema violência, representada pela destruição do plenário da Suprema Corte, é constrangedor e inquietante ouvir a sua fala sobre uma hipótese tão bárbara. E ele tem, é evidente, conhecimento do que realmente ocorreu.

Há pouco tempo, fui procurado por um cidadão, ex-sócio da família Bolsonaro, que disse ter participado de algumas reuniões nas quais os bolsonaristas, chefes da milícia, discutiam quem iriam matar quando consolidassem o poder fascista. Segundo me garantiu essa pessoa, eu também seria morto e com requintes de crueldade.

É importante uma reflexão da sociedade como um todo acerca da importância dos inquéritos e processos sobre o 8 de Janeiro. Muitos ainda insistem em considerar que a reação do Judiciário foi excessiva. Vale ressaltar que a ocupação das sedes dos Poderes era, sem dúvida, a preparação para o golpe que se anunciava cruel.

O ministro Toffoli foi visionário quando teve coragem de instaurar as investigações contra as fake news e determinou a distribuição para a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

Estou em Paris, porém pretendo voltar para estar em Brasília no dia 8 de Janeiro, o dia da infâmia, mas também da libertação. Resistimos e vencemos. A Democracia ganhou. É bom que ocupemos todos os espaços democráticos contra a barbárie. E vamos acompanhar os processos. Não é correto responsabilizar e punir somente quem fez a linha de frente. Quem planejou nossa morte, tramou contra a Democracia e ultrajou a Constituição tem de ser responsabilizado.

Recorro-me, novamente, ao mestre Torquato Neto, no poema Marginália II:

Eu, brasileiro, confesso

Minha culpa meu pecado

Meu sonho desesperado

Meu bem guardado segredo

Minha aflição

Eu, brasileiro, confesso.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo