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Diplomatas sobem o tom na Assembleia da ONU; Jordânia diz que Israel faz de Gaza ‘um inferno’
‘Escolham a justiça, não a vingança’, afirmou o embaixador palestino Riyad Mansour aos representantes dos 193 Estados-membros


Representantes de Israel e de países árabes trocaram fortes acusações na tribuna da Assembleia-Geral da ONU nesta quinta-feira 26. Durante dois dias, o órgão debate a guerra entre o Estado israelense e o grupo palestino Hamas, após o Conselho de Segurança fracassar em aprovar uma resolução para cessar o conflito.
“Israel está transformando Gaza em um inferno perpétuo na Terra. O trauma vai perseguir gerações inteiras”, disparou o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, em nome dos 22 países do grupo árabe. “O direito à autodefesa não é uma licença para matar impunemente, o castigo coletivo não é autodefesa, é um crime de guerra.”
O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, reporta mais de 7.000 mortes no enclave decorrentes dos bombardeios israelenses desde 7 de outubro, dia em que integrantes do movimento palestino invadiram Israel e deixaram 1.400 mortos.
“Para deter esta loucura, vocês têm a oportunidade de fazer algo, de enviar um sinal importante. Escolham a justiça, não a vingança”, disse o embaixador palestino Riyad Mansour aos representantes dos 193 Estados-membros da ONU. “Não percam esta oportunidade. Há vidas que dependem disso, e cada vida é sagrada. Por favor, salvem vidas, salvem vidas, salvem vidas. Votem a favor de nosso projeto de resolução.”
As resoluções da assembleia, instância a representar todos os Estados-membros da ONU e na qual não há direito a veto, não são vinculantes, mas os países árabes trabalham em um texto.
Um projeto de resolução da Jordânia, por exemplo, deve ser votado nesta sexta-feira 27. O texto, revelado parcialmente pela agência AFP, pede um “cessar-fogo imediato” e o acesso “sem restrições” de ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Insta, ainda, todas as partes a protegerem os civis, mas não menciona o Hamas.
“Os que redigiram a resolução afirmam estar preocupados com a paz, mas nem sequer mencionam os assassinos depravados que começaram esta guerra”, criticou o embaixador israelense Gilad Erdan. “Esta resolução é um insulto à inteligência, e o único lugar ao qual esta resolução pertence é a lata de lixo da história.”
Fracasso
A Assembleia-Geral da ONU se reuniu após mais um encontro frustrante do Conselho de Segurança da ONU, na quarta-feira 25. O grupo rejeitou dois novos projetos de resolução sobre a guerra entre Israel e o Hamas, apresentados por Rússia e Estados Unidos.
O texto norte-americano, votado primeiro, teve 10 votos a favor, três contra – entre eles, de Rússia e China, com direito a veto – e duas abstenções. No total, quatro projetos de resolução sobre o conflito foram rechaçados nos últimos 11 dias na ONU.
Além de condenar “inequivocamente os odiosos ataques terroristas do Hamas e de outros grupos”, o texto reforçava “o direito de todos os Estados à autodefesa”, uma óbvia menção indireta a Israel.
Também pedia “pausas humanitárias” para que a ajuda chegue à população de Gaza, submetida a um bloqueio israelense, e mencionava a necessidade de continuar a trabalhar pela criação de dois Estados, um israelense e outro palestino, convivendo “lado a lado, em paz”.
O texto dos Estados Unidos, porém, não defendia um cessar-fogo. A avaliação do governo de Joe Biden é que a medida beneficiaria apenas o Hamas.
Na semana passada, os norte-americanos vetaram uma resolução liderada pelo Brasil, que recebeu 12 votos a favor, porque a proposta não citava “o direito de Israel de se defender”.
Na quarta-feira, o embaixador russo na ONU, Vassili Nebenzia, classificou o projeto americano de “altamente politizado” por descumprir “os padrões mais básicos de qualidade” e não conter “um chamado de cessar-fogo”.
Submetido a votação em seguida, o projeto russo também foi rejeitado, com quatro votos a favor, dois contra (Estados Unidos e Reino Unido) e nove abstenções.
No texto, a Rússia pedia “o estabelecimento imediato de um cessar-fogo humanitário duradouro e plenamente respeitado” e condenava “toda a violência e as hostilidades contra civis”.
Ao contrário de outro projeto russjo rejeitado na semana passada, a versão desta quarta mencionava especificamente o Hamas e condenava “os ataques abomináveis” do movimento palestino contra Israel em 7 de outubro. Para a França, contudo, o fato de a redação não qualificar os ataques como “terroristas” motivou sua abstenção.
Para ser aprovada, uma resolução requer a aprovação de pelo menos 9 dos 15 membros do Conselho, sem o veto de nenhum dos cinco membros permanentes (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China).
(Com informações da AFP)
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