Educação
Alunos da PUC-Rio impedem fala de professor em evento sobre guerra entre Hamas e Israel
Michel Gherman, doutor em História Social e crítico do Hamas, teve que se retirar do local. Ele atribuiu à ação a grupos ligados à extrema-direita
Um debate acadêmico sobre as causas do conflito entre Israel e o grupos Hamas, realizado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro na última terça-feira 10, fez o professor Michel Gherman, doutor em História Social e especialista no tema, sofrer ameaças e ofensas dos alunos presentes.
Gherman, que classifica o grupo Hamas como terrorista, teve que ser escoltado após abordar a necessidade de negociação com a Autoridade Nacional Palestina. Antes da fala de Gherman, discutia-se o ataque a Israel como uma “reação de resistência” e um “ato desesperado”. No evento, parte dos estudantes presentes discordaram do entendimento do professor e interromperam a fala.
Frente à discussão, que deixou de se ater ao âmbito acadêmico, Gherman teve que se retirar da sala. “Vou embora, vocês ganharam”, diz Gherman em vídeo compartilhado nas redes sociais. O evento estava sendo transmitido ao vivo pelo canal da instituição no YouTube, mas foi apagado.
“Eles [os estudantes] foram para o evento preparados para impossibilitar qualquer diálogo”, disse Gherman a CartaCapital, que afirmou que a tentativa de silenciamento “foi organizada, pelo que tudo indica, por grupos ligados à extrema-direita”.
“No meio da discussão, começaram a me acusar de ser simpático ao Hamas, e eu dizia que não era. Impediram qualquer tipo de argumentação, me acusando o tempo todo de ser anti semita. Eu repetia, todo o tempo, de que não apenas não sou anti semita, como sou judeu e a favor do Estado de Israel e absolutamente contrário ao Hamas”, afirmou o professor, que frisou que o debate era acadêmico.
O Instituto de Relações Internacionais da PUC, que organizou o evento, repudiou, por meio de nota, o que considerou como “tentativas de impedir qualquer debate acadêmico”. “Entendemos que a universidade é lugar de escuta e expressão de diferenças e acreditamos na importância de preservar espaços de troca e no respeito mútuo”, disse o instituto.
Pesquisador do centro de estudos de Sionismo e Israel da Universidade Ben Gurion do Negev, e do Centro Vital Sasson de Estudos do Antissemitismo da Universidade Hebraica de Jerusalém, Michel Gherman é coordenador acadêmico do Instituto Israel-Brasil.
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