

Opinião
Novos ventos
O sucesso da Seleção Sub-17 reflete os garotos que saem da base e se tornam titulares ou são emprestados e vendidos para outros times


Enquanto os campeonatos estaduais vão resistindo, com decisões a conta-gotas, o Sport sagrou-se, no último fim de semana, campeão pernambucano e o Amazonas, após vencer o Manauara, levou o título amazonense. Ao mesmo tempo, neste início do Campeonato Brasileiro, algumas questões vêm causando inquietação.
Uma delas é o papo de toda roda: o número extravagante de sites e aplicativos de apostas que estão estampados nas camisas de quase todos os times e que aparecem, também de forma avassaladora, em todos os meios de comunicação. Vê-se, pelo grande número de empresas concorrentes, que se trata de um negócio rentável.
Já no que diz respeito às logomarcas estampadas nas camisas dos clubes, chama atenção o fato de que, quanto mais carimbos nos uniformes, mais o time está na pendura. Vemos de tudo: nome de plano de saúde, de escolas e até mesmo de pensões nas quais as equipes de base se alimentam.
Esses clubes são, invariavelmente, grandes candidatos ao rebaixamento ou a virar uma Sociedade Futebol Empresa (SAF). A crise financeira é tamanha que, ainda esta semana, saiu uma notícia dando conta dos clubes que vêm lançando mão do expediente de pedir contribuições aos torcedores, para pagar os famosos “bichos” por vitórias e outras conquistas – como classificações, passagens de fase etc.
O cardápio de formatos desse tipo de contribuição é variado e envolve até mesmo empresas terceirizadas. Isso tudo me fez lembrar de como essas apostas, contribuições e afins se desenrolavam quando comecei a minha caminhada.
Havia um grupinho que se reunia no último degrau das arquibancadas do Maracanã, atrás do gol da estrada de ferro, e que fazia apostas relativas a tudo o que acontecia dentro de campo: primeiro tiro de meta, primeiro escanteio, primeira bola fora, pênaltis, enfim, tudo. A certa altura, o negócio foi crescendo e passou para o vestiário.
Oferecia-se então um valor para quem colaborasse. A partir daí, foi preciso uma intervenção mais séria para impedir que a coisa prosseguisse. Era o embrião de algo, eu nunca soube do quê.
Os exemplos são fartos e incluem até mesmo a Loteria Esportiva. Como já disse, trata-se de um assunto complexo. Me recordo, por exemplo, da proposta de uma campanha para um clube contratar um jogador renomado através de “vaquinha” entre os torcedores.
Isto seria claramente algo grave, porque a relação é direta: o torcedor que “comprou” o jogador pode, em algum momento crítico, se achar no direito de cobrá-lo sabe-se lá de que forma.
Fora do espectro das confusões, temos também as boas-novas. Elas aparecem nos pés da nova geração, que vem sendo lançada, notadamente, pelo Palmeiras, pelo Vasco e, de modo mais confuso, pelo Flamengo. Vamos ver, no Flamengo, como as coisas vão ficar com o irrequieto Sampaoli. Uma coisa pelo menos é certa: agitação não vai faltar.
O jogo entre Vasco da Gama e Palmeiras, no domingo 23, rendeu comentários entusiasmados que se estenderam pela semana. E com toda razão. Tudo foi empolgante, da presença maciça dos torcedores até o jogo em si – tanto pela apresentação do Vasco, em pleno reerguimento, quanto pela virada sensacional do “Verdão”.
O que se nota, sem dúvida, é que novos ventos estão soprando na vida brasileira. Vemos garotos que saem da base e se tornam titulares em seus clubes de formação e outros que, mesmo ainda bem novos, já passaram por experiências em clubes do exterior ou foram emprestados para times brasileiros.
Não por acaso, a Seleção Sub-17 vem fazendo sucesso, com revelações e destaques animadores. No domingo 23, a equipe brasileira sub-17 venceu a Argentina por 3 a 2 e assumiu a liderança do Sul-Americano. O 13º título da Seleção seria confirmado mais tarde, com o empate entre Equador e Venezuela.
Ao mesmo tempo, a Seleção Feminina vem crescendo em sua preparação para o Mundial, apresentando jogos empolgantes e jogadoras em visível processo de crescimento. No último jogo do Palmeiras, Amanda Gutierres estava em estado de graça: só faltou fazer chover. No seu gol de “cavadinha”, acabou com o baile e saiu desfilando com o número 8 às costas. Um espetáculo. •
Publicado na edição n° 1257 de CartaCapital, em 03 de maio de 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Novos ventos’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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