Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

cadastre-se e leia

O esporte nos 100 dias

A ministra Ana Moser nos traz a esperança de que vá se dedicar à construção do sistema brasileiro do esporte

Ana Moser e Lula. Foto: Ricardo Stuckert/divulgação
Apoie Siga-nos no

A marca dos cem dias do novo governo assinalou um momento importante para todos nós. No mínimo, porque permitiu a divulgação de informações, algo absolutamente decisivo nas disputas políticas, ainda mais em tempos de fake news. É necessário que as propostas e, mais que isso, as realizações cheguem de imediato a quem pode ser impactado por elas. Precisamos entender o que cada medida significa na vida dos cidadãos comuns.

No esporte, a ministra Ana Moser nos trouxe, por meio de uma entrevista, a esperança de que vá se dedicar à construção do sistema brasileiro do esporte. Sua ideia toma por base um todo idealizado na Constituição de 1988, mas que, até aqui, não passou de letra morta: “Esporte, direito do cidadão, dever do Estado”.

Esse sistema poderia até se chamar Sistema Único do Esporte, à semelhança do nosso vitorioso Sistema Único de Saúde. Quando pensamos em algo assim, dá a sensação de que é muita coisa para se resolver em pouco tempo. De fato é, mas em algum momento é preciso começar, dar o pontapé inicial.

Houve antes uma iniciativa saída do Ministério do Esporte, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, sob orientação do professor Manoel Tubino, da Universidade Federal do Rio de ­Janeiro (UFRJ). A proposta era criar espaços que abrangessem desde a iniciação em todas as variedades esportivas até o esporte de alto rendimento e o profissional.

Esse movimento teve grande alcance aqui em Paquetá, onde chegaram equipamentos de aprendizado de navegação, ou seja, uma preparação adequada à prática identificada com a população de uma ilha. Houve, do mesmo modo, adequação a populações indígenas e a outros tipos de localidades.

Hoje, a atividade esportiva tornou-se um dos grandes negócios da sociedade capitalista. Portanto, os recursos existem. Resta distribuí-los adequadamente.

E resta, também, pensar no “arcabouço” do que seria o esporte para o Estado brasileiro. É preciso, a meu ver, encará-lo da forma mais completa possível. Nos Estados Unidos, por exemplo, sabemos que a prática esportiva está muito ligada às universidades. A China também conta com uma política de Estado voltada ao esporte.

Há, certamente, outros sistemas em outros países que devem ser estudados com o objetivo de construirmos um modelo adequado às características próprias dos brasileiros. Enquanto sonhamos com o possível e o impossível, a bola segue rolando no futebol.

Chegaram ao fim os campeonatos estaduais pelo Brasil. Foram disputas bastante animadas as desta temporada, graças às zebras que passearam à vontade, deixando, apesar da intromissão da Libertadores e de outros campeonatos, rastros das refregas do fim de semana anterior. Isso se deu notadamente no Rio e em São Paulo.

Na capital paulista, o Palmeiras impôs sua condição de melhor equipe brasileira do momento e passou por cima do Água Santa, de Diadema, sem cerimônia.

No Rio é que a coisa ficou braba para o torcedor rubro-negro. O Flamengo, que entrou para o jogo final com a vantagem de dois gols, deixou para o fim a exposição de todas as mazelas que vinham sendo disfarçadas no decorrer do campeonato. Não adianta fazer do treinador português o “judas” da Semana Santa que passou. Contrariando o ditado, eu diria: o buraco é bem mais em cima.

O que se viu foi uma derrota humilhante para o Fluminense, por 4 a 1, com o time perdido em campo, sem qualquer capacidade de reação, fosse da parte dos jogadores, fosse da parte do técnico, atordoado a beira do gramado do Maracanã.

Foi uma final de um time só, que livrou o treinador tricolor da pecha de realizar bons trabalhos, mas não obter títulos. Seu colega do Flamengo, por outro lado, se viu perdendo mais uma decisão. Parece navegar sem remo em uma barca furada.

É impressionante como o Flamengo não consegue fazer a passagem de um trabalho grandioso para um novo ciclo. Vimos vários jogadores “à meia bomba” num mesmo time, enfrentando um adversário inteiro – embora tendo jogado também no meio da semana fora do Brasil. Trata-se de um nítido descontrole da direção. E, nesses casos, acaba sobrando para todo mundo. Agora segue a caravana.

Neste fim de semana tem início o Campeonato Brasileiro, com muita expectativa pelos maus momentos de boa parte dos times grandes – com raríssimas exceções.

Enquanto isso, a Seleção feminina brasileira parte para o Mundial e, na Europa, onde atualmente mora o melhor futebol, têm início as quartas de final da Champions League.

Em termos de craques, o fim do contrato do mago Messi no Paris ­Saint-Germain mobiliza a expectativa dos torcedores mundo afora. •

Publicado na edição n° 1255 de CartaCapital, em 19 de abril de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O esporte nos 100 dias ‘

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

Leia essa matéria gratuitamente

Tenha acesso a conteúdos exclusivos, faça parte da newsletter gratuita de CartaCapital, salve suas matérias e artigos favoritos para ler quando quiser e leia esta matéria na integra. Cadastre-se!

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

10s