Política
O incômodo do MST com a indefinição de Lula sobre o comando do Incra
A insatisfação do movimento ainda está relacionada à lentidão do governo para exonerar os indicados de Bolsonaro a superintendências do órgão


A indefinição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a direção do Instituto de Colonização e Reforma Agrária virou alvo de críticas entre organizações ligadas à luta do campo, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.
Coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues escreveu em uma rede social nesta quinta-feira 23 que a entidade está “começando a ligar a luz amarela”, lembrando que a autarquia é “importante para o povo do campo”.
“Começando a acender a luz amarela. Até agora o governo federal não nomeou a direção do Incra, que tem a responsabilidade de cuidar de todas as áreas de implantação do programa de reforma agrária. Nem precisamos lembrar a importância deste órgão para o povo do campo”, escreveu Rodrigues.
Parlamentares ligados aos movimentos sociais também relataram à reportagem certa insatisfação com a demora. É o caso do deputado federal Airton Falero (PT-PA), que considera o órgão importante para acelerar a regularização fundiária no País.
“O que está nos deixando nervosos é a demora para a escolha e a nomeação. Por quê? Porque há uma expectativa grande de que, com a mudança de governo, teremos a aceleração nos processos de regularização fundiária, retomada dos assentamentos e produção de alimentos pra ajudar a combater a fome”, declarou a CartaCapital.
“Agora não nos resta outro caminho senão a cobrança na nomeação. Porque realmente temos pressa. Em alguns lugares, ainda temos bolsonaristas ou não tem ninguém. Enquanto não se nomeia ninguém, nada anda”, pontuou.
A principal insatisfação do MST está relacionada à dificuldade do governo para exonerar os indicados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) às superintendências regionais do Incra. Em Alagoas, por exemplo, o superintendente do órgão é o bolsonarista Cesar Lira, primo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).
Como antecipou CartaCapital, o presidente Lula bateu o martelo pela indicação de Rose Rodrigues, ex-secretária de Agricultura em Sergipe e militante do MST, para a presidência do órgão. Em conversa com sindicalistas, durante visita a Maruim, o petista atribuiu a demora na nomeação à Casa Civil, chefiada pelo ministro Rui Costa (PT).
Ambos chegaram a se reunir durante um almoço na residência do ex-deputado Luiz Mitidieri (PSD), na capital sergipana, para discutir os desafios e a atuação do Incra sob Lula.
A expectativa do MST era de que Rose fosse nomeada nos próximos dias. Nesta quinta, porém, integrantes do PT relataram uma possível mudança na escolha do presidente, o que gerou uma frustação nos movimentos sociais.
Em nota conjunta, mais de 30 entidades, entre elas a Central Única dos Trabalhadores e o Movimento Negro Unificado, manifestaram apoio à indicação da sergipana.
“A companheira reúne todas as competências e habilidades políticas e técnicas para contribuir com o Governo do Presidente Lula em realizar uma reforma agrária e desenvolvimento rural de forma democrática e justa”, escreveram.
O Incra, hoje vinculado do Ministério do Desenvolvimento Agrário, é alvo de disputa entre alas do PT de diferentes regiões do País.
Chefiado interinamente pelo engenheiro Cesar Fernando Schiavon Aldrighi, o órgão tem o objetivo de criar assentamentos rurais para o repasse de terras a trabalhadores em situação de vulnerabilidade.
Sob Bolsonaro, a autarquia foi entregue a lideranças da bancada ruralista e passou por um processo de desmonte, com a paralisação da política de reforma agrária e a suspensão de aquisição e desapropriação de terras.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Yanomamis: MPF abre investigação sobre gastos da Saúde e da Funai sob Bolsonaro
Por CartaCapital
O que diz o MEC sobre o debate da linguagem neutra nas escolas
Por Camila da Silva