Política
Eleições/ Encenação fardada
Militares cobram acesso aos códigos-fonte das urnas, disponíveis desde 2021
Faltando apenas dois meses para o primeiro turno das eleições, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, encaminhou um ofício com carimbo “urgentíssimo” ao Tribunal Superior Eleitoral. O motivo? Solicita que a Corte libere para as Forças Armadas o acesso aos códigos-fonte das urnas eletrônicas, disponíveis desde outubro de 2021.
Após a passagem do general Eduardo Pazuello pelo Ministério da Saúde, o “especialista em logística do Exército” que deixou faltar oxigênio em Manaus no auge da pandemia e trocou remessas de vacinas despachadas ao Amazonas e ao Amapá, ninguém duvida da capacidade dos militares no governo em expor publicamente a própria inépcia. O episódio parece, porém, evidenciar mais uma tentativa de Jair Bolsonaro de arrastar as Forças Armadas para a sua trama golpista, um remake mambembe do motim do Capitólio, quando Donald Trump insuflou seus apoiadores a contestar o resultado das eleições dos EUA sob falsas alegações de fraude.
O TSE abriu as portas de sua sala segura para os militares na quarta-feira 3 e a inspeção deve se estender por dez dias. Antes das Forças Armadas, a Controladoria-Geral da União, o Ministério Público Federal, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Senado avaliaram os códigos-fonte do sistema eleitoral, sem apontar quaisquer vulnerabilidades.
Covardia acima de tudo
A deputada Sâmia Bomfim, líder do PSOL na Câmara, registrou boletim de ocorrência após receber uma ameaça por e-mail. O caso será investigado pela divisão de crimes cibernéticos da Polícia Civil de São Paulo. “Acha que vai continuar exercendo este cargo de deputada federal até 2023? Nana-nina-não, sua vadia. Vamos te amarrar e te estuprar na frente do seu filho Hugo e do Glauber”, diz a mensagem. A parlamentar é casada com o também deputado Glauber Braga, com quem tem um filho de 1 ano. “O nosso recado para eles é de que todas as ameaças estão sendo investigadas, e os responsáveis serão punidos. Por mais que tentem nos calar e nos intimidar, nós não arredaremos o pé da política”, diz Bomfim.
Matilha digital/ Papo Reto em cana
Bolsonarista é preso por ameaças a ministros do STF e a adversários
O “terapeuta“ ameaçou pendurar os juízes “de cabeça para baixo“ – Imagem: Redes sociais
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, decretou no domingo 31 a prisão preventiva do bolsonarista Ivan Rejane Pinto. Conhecido como Ivan Papo Reto, ele mantém canal no YouTube no qual se apresenta como “terapeuta” para dependentes químicos, mas gosta mesmo de falar de política. Ou melhor, de ameaçar políticos de esquerda e juízes da Suprema Corte.
Em recente publicação, o “terapeuta” conclama os cidadãos de bem a participar dos atos convocados por Jair Bolsonaro para o próximo 7 de setembro. “Está na hora de invadir o STF”, sugere, antes de mandar um recado para os “togados vagabundos” do tribunal: “Não vamos só invadir o STF, não. Nós vamos pendurar vocês de cabeça para baixo”.
O militante também tem o hábito de ameaçar adversários políticos do ex-capitão. “Vou dar um recado para a esquerda brasileira, principalmente para o Lula. Desgraçado, bota o pé na rua, que nós vamos te mostrar o que nós vamos fazer com você, seu vagabundo. Anda de segurança até o talo, que nós, da direita, vamos começar a caçar você, essa Gleisi Hoffmann, esse (Marcelo) Freixo frouxo, todos esses que te cercam”, disse, em vídeo de 8 de julho. Agora, quem não pode colocar o pé na rua é Papo Reto.
Terrorismo/ Fim da caçada
Os EUA abatem Ayman al-Zawahiri, o líder da Al-Qaeda
O egípcio ajudou a planejar os ataques de 11 de setembro – Imagem: AFP
Mais de uma década após assumir o posto de líder da rede Al-Qaeda, no lugar de Osama Bin Laden, o egícpio Ayman al-Zawahiri, de 71 anos, foi declarado morto pelo governo dos EUA. Ele morreu após um ataque executado por um drone norte-americano em Cabul, capital do Afeganistão, no fim de semana, mas a informação só foi confirmada na segunda-feira 1º.
Ao apresentar o seu troféu, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que abater Al-Zawahiri era essencial para assegurar que as regiões controladas por talebans em território afegão não sirvam mais de base para o planejamento de ataques terroristas.
Médico de formação e oriundo de uma próspera família do bairro de Gizé, no subúrbio da cidade do Cairo, o egípcio participou do planejamento dos ataques de 11 de setembro de 2001, que resultaram na morte de 3 mil norte-americanos. Após a execução de Bin Laden por forças especiais dos EUA no Paquistão, em 2011, Al-Zawahiri assumiu o controle da Al-Qaeda. Incluído pelo FBI na lista dos criminosos mais procurados do mundo, sua cabeça estava a prêmio. Washington oferecia recompensa de 25 milhões de dólares a quem repassasse informações que revelassem o seu paradeiro.
Mísseis hipersônicos
No mesmo dia em que um drone com explosivos atingiu o quartel da frota russa no Mar Negro, o presidente Vladimir Putin anunciou que as tropas da Rússia vão usar os mísseis hipersônicos Zircon na guerra na Ucrânia. O ataque ocorreu no Dia da Marinha da Rússia e levou ao cancelamento das comemorações que ocorreriam na Crimeia, península anexada pela Rússia em 2014. Os mísseis Zircon viajam nove vezes mais rápido que a velocidade do som e podem atingir alvos a mil quilômetros de distância.
Geopolítica/ nas barbas do dragão
China e Rússia ameaçam EUA por visita de Nancy Pelosi a Taiwan
Após o gesto de Pelosi, China e Rússia demonstraram sintonia – Imagem: Departamento de Estado/EUA
Autoridades de Pequim e Moscou repudiaram a visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, à ilha de Taiwan. “Os EUA carregarão a responsabilidade e pagarão o preço por minar a soberania e a segurança da China”, ameaçou Hua Chunying, porta-voz da chancelaria chinesa. Pelo Telegram, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, emendou: “Washington desestabiliza o mundo. Nem um único conflito solucionado nas últimas décadas, mas muitos provocados”.
A China não reconhece a independência de Taiwan. Considera a ilha uma província ainda não incorporada ao restante do seu território desde o fim da guerra civil chinesa. Pequim cita reiteradamente a possibilidade de recuperar o território, inclusive pela força.
Embora Joe Biden tenha criticado o roteiro de Pelosi, a Casa Branca condenou as ameaças. “Não há motivos para Pequim transformar uma visita, consistente com uma política de longo prazo dos EUA, em algum tipo de crise ou conflito, ou usá-la como pretexto para aumentar exercícios militares agressivos em torno do Estreito de Taiwan”, disse John Kirby, coordenador de Comunicação do Conselho de Segurança Nacional.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1220 DE CARTACAPITAL, EM 10 DE AGOSTO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”
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