Sociedade
Imortais da ABL recusam medalhas também concedidas a Daniel Silveira
O professor Antonio Carlos Secchin e o poeta Marco Lucchesi disseram não se sentir confortáveis compartilhando a honraria com alguém prefere armas à livros


Pelo menos dois integrantes da Academia Brasileira de Letras homenageados pela Biblioteca Nacional recusaram receber a medalha de Ordem do Mérito do Livro após saberem que entre os agraciados estava o deputado federal Daniel Silveira (PTB).
O parlamentar foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal por atos antidemocráticos e ataques aos ministros da Corte. No entanto, sua pena foi perdoada, graças a indulto presidencial conferido por Jair Bolsonaro.
Entre os que recusaram a honraria está o professor emérito da UFRJ e membro da ABL, Antonio Carlos Secchin.
O professor justificou a recusa afirmando que não se sentiria bem compartilhado a Medalha do Mérito de Livro com personalidade que provavelmente não veem no livro mérito nenhum.
“Quando aceitei a medalha, supunha que ela seria entregue a pessoas que, como no meu caso, tivessem vivência com a Biblioteca Nacional e com o universo do livro”, diz Secchin.
“Porém, pelo que soube há pouco a cerimônia vespertina se constituirá na celebração de uma única diretriz política, agraciando pessoas sem relação com livros, biblioteca e cultura”, concluiu.
O escritor, poeta e tradutor Marco Lucchesi também recusou a Medalha.
No Twitter, o professor criticou a entrega da homenagem à Silveira e disse que não tem condições de recebê-la.
“Se eu aceitasse a medalha seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiro a uma biblioteca”, afirmou o Lucchesi.
A cerimônia de entrega da honraria está marcada para as 15h30 desta sexta-feira 1. Entre as personalidades agraciadas com a Medalha de Ordem do Mérito do Livro estão Carlos Drummond de Andrade e Gilberto Freyre.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.