Política

Produtores de soja criticam bloqueio a produtos de áreas desmatadas: ‘Brasil não é mais colônia’

No texto, a associação ainda diz que a ‘UE não é mais dona do mundo’, assim como o ‘Brasil não é mais colônia europeia’

Produtores de soja criticam bloqueio a produtos de áreas desmatadas: ‘Brasil não é mais colônia’
Produtores de soja criticam bloqueio a produtos de áreas desmatadas: ‘Brasil não é mais colônia’
A soja avança. Foto: Adriano Gambarini/WWF-Brasil
Apoie Siga-nos no

A Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja) criticou nesta terça-feira 23 a proposta do Parlamento Europeu de proibir a entrada de produtos vindos de áreas desmatadas na União Europeia. Na lista de possíveis barrados estão a soja, cacau, café e até carne bovina.

Em nota, a associação disse que a medida é “protecionismo comercial disfarçado de preservação ambiental”. No texto, os produtores brasileiros ainda dizem que a ‘UE não é mais dona do mundo’, assim como o ‘Brasil não é mais colônia europeia’ e por isso não deve aceitar a medida.

Para a Aprosoja, barrar alguns dos principais produtos brasileiros sob a alegação de que são oriundos de áreas ilegalmente desmatadas é uma ‘afronta à soberania nacional’.

“Se os europeus estão preocupados com nossas florestas, eles poderiam aproveitar a qualidade de suas terras para replantar também as suas florestas e instituir como aqui a reserva legal e as áreas de proteção permanente dentro das propriedades rurais. Portanto, respeitem a nossa soberania”, diz um trecho da nota divulgada pela associação.

Segundo eles, a floresta amazônica teria 80% do seu bioma preservado, ‘da forma como os europeus encontraram quando colonizaram o País’. A afirmação repete um discurso feito por Jair Bolsonaro a investidores em Dubai, quando afirmou que ‘90% do bioma estaria intacto, como encontrado em 1500’.

Dados recentes do Instituto Brasileiro de Florestas mostram que 16% do local já foi atingido pela devastação. Levantamento da WWF Brasil e do Ecoa Brasil, a partir de dados coletados pelo Inpe, indicam que a Amazônia brasileira já perdeu 19% da sua área original. Em outubro, o desmatamento bateu recorde na região e atingiu níveis nunca antes registrados para o período.

Ainda na nota, a Aprosoja também defende que o governo brasileiro já se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até 2028, o que, portanto, tornaria injustificado a tentativa de bloqueio da UE sobre os produtos brasileiros. Na sexta-feira, no entanto, dados oficiais mostraram que sob a gestão Bolsonaro, o desmatamento na região subiu 22% em apenas um ano.

“Se isso não é suficiente, podemos concluir que as intenções da União Europeia não dizem respeito à preservação ambiental, mas, sim, de uma tentativa de exercer barreiras comerciais contra produtores de alimentos do Brasil para proteger agricultores daqueles países”, sugere o texto.

A Aprosoja também diz ser ‘impossível’ pela legislação brasileira que a produção do agronegócio avance sobre a floresta preservada.

“Há estados no bioma amazônico que têm mais de 60% de seu território destinado para Terras Indígenas e Unidades de Conservação, como é o caso do Amapá, que tem 71% da sua área preservada. E o Código Florestal obriga a preservar 80% da propriedade, ou nos casos de ocupação anterior, 50% dela. Não precisa ser nenhum gênio da matemática para concluir que legalmente não se pode expandir a produção nos 80% de floresta”, defendem os produtores.

Estudos, no entanto, indicam que o agronegócio é atualmente um dos principais responsáveis pelo desmatamento da floresta brasileira, assim como por boa parte da emissão dos gases de efeito estufa no País.

Por fim, a associação cobra que a UE ‘respeite a soberania nacional’ em decidir sobre o uso das suas terras e que outros países afetados pela medida também se posicionem contra a proposta apresentada no Parlamento.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo