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MPF investiga cooperativa fundada por Sérgio Reis para explorar terras indígenas

A Cooperativa Kaiapó, criada pelo cantor e por um madeireiro, já foi rechaçada por indígenas do Pará

MPF investiga cooperativa fundada por Sérgio Reis para explorar terras indígenas
MPF investiga cooperativa fundada por Sérgio Reis para explorar terras indígenas
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
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O Ministério Público Federal investiga a Cooperativa Kaiapó, fundada pelo cantor sertanejo Sérgio Reis em 2019. A cooperativa, que atua no Pará e tem o objetivo de viabilizar a exploração mineral em terras indígenas, já foi rechaçada por indígenas locais que alegam que ela não se enquadra no “contexto do modo como a comunidade sobrevive”. A informação é do jornal O Globo.

 

O inquérito que apura a atuação da cooperativa no estado corre em sigilo desde 2019 e não há informações públicas sobre Sérgio Reis constar na lista de investigados. À reportagem, o sertanejo negou qualquer vínculo atual com a entidade, mas admitiu ter participado de sua fundação ao lado do madeireiro João Gesse.

Segundo publicação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Gesse declarou diversas vezes que o objetivo da cooperativa é “desmascarar as ONGs”, “tirar a Funai” e ensinar os indígenas da região “a administrar suas coisas igual a índio americano”. Na ata de criação, constam como objetivos oficiais a “extração, exploração agroindustrial, produção e comercialização (…) de recursos minerais dentro da reserva indígena Kaypó”.

Assim como Reis, o empresário negou atuar na entidade, tendo sido apenas um dos fundadores. “Os índios criaram o estatuto. Eu não tenho ligação com a cooperativa. Ela é 100% indígena. Nós apenas ajudamos a criar”, justificou.

Reis diz que fundou a organização após ele e a esposa visitarem a aldeia a convite de Gesse: “Eu comecei a ir lá, a visitar. Levei até minha esposa, que ficou uma semana na tribo. Ela ficou assustada e ficou com dó. Foi aí que resolvemos criar essa cooperativa”, explicou ao jornal.

Para os indígenas, a criação da entidade não se justifica e a atuação dela é rejeitada pela comunidade local. “Cada aldeia já tem sua própria instituição ou associação e não precisamos que brancos falem por nós”, diz um trecho da carta assinada pelas lideranças.

Na investigação, o MPF busca explicações sobre os produtos explorados, se há indígenas no conselho de administração e se a criação teve participação da Fundação Nacional do Índio ou do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. Além disso, os procuradores buscam evidências que comprovem que houve consulta prévia aos indígenas para a criação do órgão, como prevê a convenção nº 163 da Organização Internacional do Trabalho, assinada pelo Brasil.

Reis informou ao jornal que esteve recentemente em Brasília ao lado de indígenas para visitar o presidente Jair Bolsonaro. No encontro, o trabalho de exploração proposto pela cooperativa foi apresentado e teria sido elogiado pelo mandatário.

Sérgio Reis (esq.) aparece ao lado Bolsonaro, ruralistas e indígenas apoiadores do presidente em Brasília. Foto: Reprodução/Redes Sociais

A exploração de terras indígenas tem sido uma das principais bandeiras de Bolsonaro. O presidente luta pelo fim da demarcação de terras e pela liberação do agronegócio e do garimpo em terras protegidas. As propostas de leis sobre o tema defendidas pelo chefe do Planalto são criticadas por lideranças indígenas e especialistas, que as classificam como um retrocesso aos direitos dos índios e ao meio ambiente.

Sérgio Reis, por sua vez, é apontado como articulador de uma ameaça de golpe no dia 7 de setembro. Em áudio que se espalhou pelas redes sociais, o cantor promete parar o Brasil com a ajuda de caminhoneiros, além de depor os ministros do Supremo Tribunal Federal à força, se necessário. O sertanejo se diz mal compreendido e alega que ameaças eram ‘brincadeira’. O artista é investigado pela Polícia Civil do DF.

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