Diversidade

Justiça Federal oferece curso sobre os direitos das pessoas trans

O objetivo é que juristas conheçam a vivência dessa população e os direitos já garantidos pela Justiça brasileira; Fachin dará palestra

Justiça Federal oferece curso sobre os direitos das pessoas trans
Justiça Federal oferece curso sobre os direitos das pessoas trans
Ato realizado no Dia da Visibilidade Trans pela luta por direitos sociais (Foto: Elineudo Meira/Fotos Públicas)
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Em junho, mês do Orgulho LGBTQIA+, a Escola de Magistrados da Justiça Federal da 3ª Região, a EMAG realiza, entre os dias 9 e 25, o curso: “A Proteção Jurídica às Pessoas Transgêneras”, que vai abordar temas essenciais para essa população dentro da justiça brasileira.

A iniciativa inédita é uma parceria com a da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).

A abertura do curso, nesta terça-feira 9, contará com a presença do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, que vai ministrar a palestra “O Direito das pessoas Trans sob a ótica do Supremo Tribunal Federal”.

A mesa contará também com o presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região Mairan Maia; a diretora da EMAG e presidente da Comissão de Equidade de Gênero do TRF3 Therezinha Cazerta; a secretária de articulação política da ANTRA, Bruna Benevides; e a vereadora de São Paulo, Erika Hilton (PSOL).

‘O Judiciário ainda é focado no homem branco’

O curso foi idealizado pela desembargadora federal Inês Virgínia. Em entrevista a CartaCapital, a jurista afirma que há ainda um desconhecimento do judiciário sobre as violações sofridas pelas pessoas trans e que o sistema precisa se atualizar.

“O judiciário tem que acolher a diversidade. Todas as normas e aparatos do sistema do justiça está ai para colher a pessoa média (homem branco) e tudo que foge desse tipo exige uma atenção maior. Eu acredito que o judiciário tenha dado um avanço muito grande vindo das decisões judiciais, principalmente do STF”, diz a desembargadora.

Ines ressalta que todas as mesas do evento contará com a presença de uma pessoa trans, para trazer a vivencia como foco do evento além do debate jurídico.

“Por enquanto recebemos elogios das pessoa que gostam da matéria, precisamos saber agora se vai ter uma procura grande do curso e se tiver vai ser uma grata surpresa”, ressalta a jurista.

A justiça precisa ser feita

O curso surgiu dentro da Justiça Federal após uma declaração da secretária de articulação política da ANTRA, Bruna Benevides, que participou de um evento e denunciou a falta de conhecimento de juízes, desembargadores e ministros sobre a vivencia dessa população no Brasil.

Em entrevista a CartaCapital, Bruna, que é uma mulher trans, conta que há muita dificuldade de implementação dos direitos garantidos até o momento quando se trata de pessoas transsexuais no Brasil.

“Muitas vezes juízes e outros operadores do direito de justiça acabam deixando prevalecer a transfobia institucional e não aplicando a jurisprudência e não garantido o direito, muitas vezes sendo os reprodutores de transfobia”, conta.

A ativista citou o recentemente caso do apresentador da RedeTV, Sikêra Jr, que agrediu publicamente uma ativista trans e o TJ de São Paulo disse que aquilo não era uma violação.

“Abre um precedente muito preocupante que acaba permitindo a transfobia pública. Assim como recentemente também no TJ de São Paulo não foi reconhecida a jurisprudência que já existia sobre a aplicação da lei maria da penha para a proteção de mulheres trans”, relembra.

“O que pode ser feito? É o cumprimento das decisões e deliberações de jurisprudência que temos até aqui e o enfrentamento com aplicação efetiva dos tratados, especialmente das conquistas como retificação de nome e gênero das pessoas trans sendo respeitadas, inclusive sucessões relacionadas aos direitos de seus filhos e questões relacionadas a pensão, questões relacionadas à retificação registral na prática que não tem um acesso garantido por conta da isenção, que não é garantida a todas as pessoas”, finaliza Bruna.

As aulas serão abertas e transmitido pelo YouTube da EMAG. Já o curso a distância é aberto a juízes, magistrados, servidores e alguns convidados.

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