Justiça
Polícia Militar do Rio ataca jornalista que denunciou corporação
Em vídeo, tenente-coronel Gabryela Dantas classifica repórter como inimigo do batalhão e mentiroso


A Polícia Militar do Rio de Janeiro divulgou, na noite de terça-feira 8, um vídeo em que ataca o jornalista Rafael Soares, dos jornais O GLOBO e Extra. O repórter foi autor de uma reportagem sobre o aumento do número de descarte de munição usada por policiais do 15º BPM, em Caxias.
No vídeo, a tenente-coronel Gabryela Dantas, porta-voz da corporação, acusou o repórter de agir de “forma maldosa” ao se aproveitar “da comoção nacional – uma referência à morte de duas meninas em Caxias, por bala perdida – para colocar a população contra a Polícia Militar”.
Assista o posicionamento oficial da Secretaria de Estado de Polícia Militar sobre matéria mentirosa publicada em jornais do grupo Globo pelo jornalista Rafael Soares. pic.twitter.com/50lodIoPcu
— @pmerj (@PMERJ) December 8, 2020
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também repudiou o vídeo. “Incitar a população contra o jornalista mostra não só falta de respeito à liberdade de imprensa, mas claro objetivo de intimidar o repórter. O governo do Rio (@claudiocastroRJ), cujo logotipo assina o vídeo, deve informar se concorda com esse tipo de recurso de ameaça à imprensa”, postou a entidade, no Twitter. O Palácio Guanabara não se manifestou sobre o caso.
A @abraji repudia o ataque feito pela Polícia Militar do RJ (@PMERJ) contra o repórter Rafael Soares (@rafapsoares), autor de reportagem mostrando aumento do uso de munição pelo batalhão dos policiais investigados pela morte das meninas Emilly e Rebeca.
— Abraji (@abraji) December 9, 2020
Em nota, a Editora Globo, que publica os dois jornais, repudiou o vídeo. Segundo a editora, os dados da reportagem criticada pela PM constam em documento produzido pelo próprio batalhão da PM de Caxias. “O jornalista, amparado em tais documentos, ouviu e registrou a versão da Polícia Militar sobre os números”.
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