Política
Para especialista, novo ministro da Saúde terá ‘postura FHC’
Primeiras declarações de Nelson Teich contrariam artigos escritos há poucas semanas sobre a Covid-19, pontua Francisco Funcia
Luiz Henrique Mandetta fez várias citações ao SUS em seu último discurso como ministro da Saúde. Seu substituto, o oncologista Nelson Teich, nenhuma em sua estreia. Para o economista Francisco Funcia, ex-diretor da Associação Brasileira de Economia em Saúde (Abres) e consultor do Conselho Nacional de Saúde, este é um sinal pouco auspicioso. “Ele não conhece o SUS.”
Teich foi apresentado no fim da tarde desta quinta-feira 16, minutos após a despedida de Mandetta e após um breve discurso de Jair Bolsonaro. Visivelmente tenso, Teich sinalizou rever as indicações de isolamento social, mas que não haverá definição brusca e que todas as decisões sobre vacinas e remédios serão tomadas de “de forma técnica e científica”, sem maiores detalhes.
Ainda no discurso, defendeu disse que há um “alinhamento completo” entre ele, Bolsonaro e “todo o grupo do ministério”. “Realmente o que a gente está fazendo aqui hoje é trabalhar para que a sociedade retome de forma cada vez mais rápida uma vida normal e a gente trabalha pelo país e pela sociedade”, afirmou.
“Por essa fala inicial, parece que Teich assumirá a postura de FHC: ‘esqueçam o que escrevi'”, avalia Funcia, fazendo menção a textos que o novo ministro publicou sobre a Covid-19. “Me parece achando que ele vai induzir algum tipo de flexibilização do isolamento, diferente do que escreveu.”
Em artigo que publicou em redes sociais no início abril, Teich defendeu o isolamento horizontal como “melhor estratégia no momento”. Apontou também a necessidade de testes na população. O Brasil faz em média 260 testes por milhão de habitantes. Na Itália, essa taxa é de 18 mil. Em texto mais antigo, do dia 25 de março, criticou a polarização entre saúde e economia e disse não defender “um lado ou outro”. “O fundamental é analisar criticamente e de forma contínua a situação e as projeções, integrando continuadamente a nova informação na análise. (…) É necessário rever diariamente a realidade, os cenários, as projeções e as ações. Como comentado, projeções e posições radicais e emocionais só levam a mais confusão e problema.”
Histórico
Como Mandetta, o novo ministro fez carreira no bojo da saúde suplementar. Era, em 2018, um dos nomes cotados para assumir de abrir a pasta. É sócio de uma consultoria de serviços médicos e fundador de uma rede de clínicas oncológicas, a COI, adquirida em 2015 pela United Health, gigante americana que controla a Amil. Foi sócio de Denizar Vianna, secretário de Ciência, Tecnologia do Ministério da Saúde, e atuou como conselheiro do amigo no ministério até janeiro deste ano.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também
Secretário do Tesouro defende ouvir saúde, e não economia, na crise do coronavírus
Por CartaCapital
Verão não será capaz de travar a pandemia do coronavírus, mostra estudo
Por Agência Brasil
Coronavírus leva Twitter de Jair Bolsonaro aos tribunais
Por André Barrocal
Quem é Nelson Teich, escolhido por Bolsonaro para substituir Mandetta
Por CartaCapital
“Foi um divórcio consensual”, diz Bolsonaro sobre demissão de Mandetta
Por Giovanna Galvani


