Sociedade

Loja do Google oferece o jogo ‘Simulador de Escravidão’ para ‘fins de entretenimento’

Apesar de contar com uma política para desenvolvedores, a empresa não promove análise prévia dos jogos hospedados

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O Google ofereceu em sua loja de aplicativos dois games chamados Simulador de Escravidão. Neles, o usuário joga como um proprietário de escravos para “extrair lucros e evitar rebeliões e fugas” e paga de 4,99 a 20,99 reais. O caso foi divulgado nesta quarta-feira 24 pelo jornal O Globo. Após a repercussão, o aplicativo saiu do ar. 

Os jogos foram desenvolvidos pela Magnus Games. Um deles foi desativado pela própria produtora.

Na descrição, a empresa alega que o aplicativo foi criado para “fins de entretenimento” e que os responsáveis “condenam a escravidão no mundo real”.

A imagem de divulgação mostra homens negros ao redor de um senhor branco. 

O jogo oferece opções de “gerenciar seus escravos, mudar suas condições de vida e treiná-los”, “proteger seus escravos para evitar que escapam e se levantem” e “fazer negócios, atribuir escravos a diferentes empresas para trabalhar e gerar renda”.

A descrição ainda detalha os perfis dos escravos: “Neste simulador de escravidão, existem 3 tipos de escravos: trabalhadores, gladiadores e escravos de prazer. Compre e venda-os. Cada escravo é adequado para um determinado negócio. Treine seus escravos para aumentar seu nível de maestria e renda”. 

O game ativo foi lançado em 20 de abril, disponível para 16 idiomas e já conta com mais de mil downloads e uma nota média de 4,0 (em uma escala até 5,0). A segunda versão do jogo, desativada, foi lançada seis dias depois com novos itens. A produtora indicou classificação livre para ambos.

“Ótimo jogo para passar o tempo. Mas acho que faltava mais opções de tortura. Poderiam estalar a opção de açoitar o escravo também. Mas fora isso, o jogo é perfeito!”, escreveu o usuário Mateus Schizophrenic em 22 de maio. Ele atribuiu a nota máxima ao jogo. Os desenvolvedores ainda possuem outros 11 jogos hospedados na loja de aplicativos do Google. 

Procurado, o Google confirmou que retirou os aplicativos do ar e que as políticas da plataforma “não permitem apps que promovam violência”. Em caso de denúncias, os jogos são banidos. A empresa não realiza uma análise prévia dos aplicativos a serem disponibilizados em sua loja virtual.

A Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal se manifestou em repúdio ao aplicativo e afirmou que irá tomar as medidas cabíveis.

“Sob o argumento de oferecer “entretenimento”, tal ferramenta foi criada com o intuito de promover, ainda que virtualmente, a continuidade de um dos capítulos mais tristes e covardes da história. Contando com compra, venda e manutenção de pessoas negras escravizadas, o aplicativo, de classificação livre, reproduz conceitos inaceitáveis de racismo e violência”, diz o texto.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) disse que vai entrar com uma representação no Ministério Público por crime de racismo.

Leia na íntegra o posicionamento do Google: 

“O aplicativo mencionado foi removido do Google Play. Temos um conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores. Não permitimos apps que promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica, ou que retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas. Qualquer pessoa que acredite ter encontrado um aplicativo que esteja em desacordo com as nossas regras pode fazer uma denúncia. Quando identificamos uma violação de política, tomamos as ações devidas”.

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