Entre 1985 e 2021, as lavouras de soja no Cerrado cresceram 1443% e, hoje, ocupam quase 20 milhões de hectares. Esses números correspondem a 10% do bioma, segundo levantamento recente da plataforma MapBiomas.
Ainda segundo o levantamento, apenas metade do bioma (53,1%) continua mantendo a vegetação nativa.
Segundo Dhemerson Conciani, pesquisador do IPAM, o Cerrado passa por dois processos simultâneos de transformação. “Por um lado, áreas já antropizadas, de pastagens, convertem-se em lavouras. Por outro, no entanto, vemos as lavouras entrarem diretamente sobre a vegetação nativa”, explica. “Isso indica que o aumento de produção não está se dando graças a melhores práticas e manejo de solo, mas pela abertura de novas áreas de cultivo.”
No entanto, qualquer alteração nas formas de produção dependerá de latifundiários, dado que apenas 12% do território correspondente ao Cerrado está protegido por algum tipo de unidade de conservação ou terra indígena.
Pesquisadores também temem a transformação do bioma em uma região mais quente e seca.
“Não sabemos o ponto de não retorno do Cerrado”, alerta Julia Shimbo, pesquisadora do IPAM e coordenadora científica do MapBiomas. “Porém, já há evidências do impacto dessa perda de vegetação nativa sobre o clima regional.”
Até agora, segundo pesquisas, a sojicultura contribuiu para um aumento de quase 1ºC na temperatura da região, diminuindo a umidade em 10%.
“Mudanças climáticas globais ainda podem agravar esse cenário de aumento de temperatura e redução de chuvas, trazendo prejuízos para a agricultura, o abastecimento de água das cidades e a produção energética do país.”, completa Julia.
Nesta segunda-feira 12, o bioma ganhará um novo sistema de monitoramento de alertas de desmatamento. O Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), é uma parceria do IPAM com a rede MapBiomas e com o LAPIG/UFG.
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