O que é o racismo ambiental?

O conceito, criado há mais de 40 anos, exprime uma realidade inegável: comunidades negras e marginalizadas são desproporcionalmente afetadas pela devastação ambiental

Rovena Rosa/Agência Brasil

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Recentemente, a ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco, causou controvérsia nas redes sociais ao associar os danos causados pelas recentes enchentes no Rio de Janeiro ao racismo ambiental.

Mas o que isso significa?


O racismo ambiental, conceito cunhado criado há mais de 40 anos pelo climatologista americado Robert Bullard, exprime de forma simples uma realidade inegável: comunidades negras e marginalizadas são desproporcionalmente afetadas pela devastação ambiental. 

Esta percepção, antes restrita aos círculos acadêmicos, agora ressoa no debate público mundial, como mostra a recente menção da ministra Anielle.

Essas comunidades frequentemente não têm acesso a infraestruturas básicas, como saneamento e áreas verdes, aumentando problemas de saúde, educação e a desigualdade de  oportunidades. A mudança climática torna o problema ainda mais grave, já que áreas historicamente marginalizadas costumam enfrentar maiores riscos de inundações, poluição e fenômenos extremos.

Bullard, pioneiro nesta luta, tem se dedicado a desvendar as interseções entre injustiça racial e ambiental. Seu trabalho, embora centrado nos Estados Unidos, encontra paralelos na realidade brasileira. Ele argumenta por exemplo que, nos EUA, a população negra, mesmo economicamente mais estável, reside em áreas mais poluídas do que bairros brancos de menor renda. Esse padrão de injustiça ambiental é evidente em cidades como Houston e Nova Orleans, e semelhanças são observadas em cidades brasileiras como Salvador e o próprio Rio de Janeiro.

O ano de 2023 foi marcado por fenômenos climáticos extremos em todo o Brasil, como as chuvas no litoral de São Paulo, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no os deslizamentos em Petrópolis, e ondas de calor intenso em todo o país. No início deste ano, o problema volta a se repetir, como mostra o impacto das chuvas no Rio, que prejudicaram desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis.

Isso mostra a urgência de tratar as mudanças climáticas nas políticas urbanas. A Câmara dos Deputados do Brasil deu um passo importante ao aprovar o Projeto de Lei 380 de 2023, que busca integrar medidas contra as mudanças climáticas no planejamento das cidades e proteger comunidades vulneráveis, como negras e indígenas.

Em resumo, racismo ambiental precisa de uma solução completa, incluindo políticas de clima, infraestrutura justa e reparação para comunidades discriminadas. Como Bullard e outros ativistas têm enfatizado, as soluções devem ser inclusivas, garantindo um ambiente saudável para todos, independentemente de raça ou classe social.

Reconhecendo o elo entre racismo e problemas ambientais, o Brasil avança na luta contra ambos os problemas.

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