Sustentabilidade
Novo projeto de Salles é método para ‘virar sócio de boiada’, diz organização
Governo lançou o ‘Adote um Parque’, que busca captar recursos do setor privado para unidades de conservação no âmbito federal


O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles lançou, na terça-feira 10, o projeto “Adote um Parque”, que busca captar recursos do setor privado para unidades de conservação no âmbito federal.
No entanto, as repetidas ações de desmonte dos órgãos ambientais e o risco de dissolução do ICMBio, autarquia que justamente cuida das reservas nacionais, fez com que o projeto fosse nomeado de “Adote 1 Ecocida” pela organização Observatório do Clima.
“A iniciativa prevê que empresas privadas deem dinheiro ao Ministério do Meio Ambiente para supostamente conservar áreas protegidas enquanto o ministro Ricardo Salles planeja a extinção do Instituto Chico Mendes, reduz orçamento para combate ao desmatamento e deixa parados bilhões de reais que poderiam ser usados em ações de redução do desmatamento e atividades econômicas sustentáveis”, escreve a organização, que define o Carrefour, primeira empresa a apoiar publicamente o projeto, como “sócia da boiada”.
A primeira fase do programa foi inaugurada com a presença do presidente Jair Bolsonaro e do presidente do Carrefour na América Latina, Noel Prioux. Segundo o governo, essa fase é voltada exclusivamente às 132 unidades de conservação federais na Amazônia.
A unidade de conservação adotada pelo Carrefour é a Reserva Extrativista (Resex) do Lago do Cuniã, em Rondônia, com cerca de 75 mil hectares. O valor anual de repasse da empresa será de aproximadamente 3,8 milhões de reais.
O Observatório contesta a narrativa criada por Salles – de que faltam recursos para preservar a Amazônia de queimadas, desmatamento, invasões de terra e afins – ao relembrar os recursos milionários parados no Ministério por escolhas políticas do governo.
“O governo tem ainda 2,9 bilhões do Fundo Amazônia, que não gasta em projetos de proteção da floresta e fiscalização ambiental porque não quer — e está sendo processado no STF por deixar o dinheiro parado”, afirmam em nota publicada após a cerimônia de abertura do programa.
Há também a lembrança do “maior programa de ‘adoção de parques’ em florestas tropicais do mundo”, o Arpa (Áreas Protegidas da Amazônia), criado em 2002 com recursos internacionais. “O Arpa já executou 389 milhões de reais e tem mais 215 milhões de dólares para executar em sua fase atual”, complementam.
Questionada pela organização se concordava com a proposta de Salles de fechar o ICMBio, o Carrefour “limitou-se a dizer que ‘avalia positivamente’ o programa anunciado hoje pelo governo.”
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.