Sociedade
Retidos na Itália, brasileiros relatam falta de dinheiro, remédios e demora do Itamaraty
Ainda esperando ajuda do Itamaraty para retornar ao país, 47 brasileiros retidos na Itália produziram um vídeo para expôr a situação
A coordenadora de uma escola municipal da cidade de Aracajú, Nayara Cerqueira, resolveu tirar suas férias em março deste ano para ir a Itália buscar sua mãe, que estava no país visitando sua outra filha. A funcionária pública de 34 anos não foi sozinha. Junto de Nayara estavam sua filha de 12 anos e uma tia de 57. As três embarcaram no dia 4 de março com a expectativa de ficarem 17 dias passeando pelo país.
O que elas não esperavam era que seis dias depois da chegada na Itália tudo seria fechado devido a crise causada pelo novo coronavírus. O país europeu é o mais afetado pelo covid-19 no mundo e está desde o dia 10 de março em isolamento social severo. “Quando viemos, o problema estava só no norte e eu estou no centro do país, perto de Roma. Quando foi decretada a quarentena, todos os meus voos foram cancelados”, contou ela.
“Meus remédios e dinheiro estão acabando, precisamos da ajuda do governo para voltarmos ao Brasil”
Agora, a família se encontra desamparada, pois o dinheiro da viagem era suficiente para 17 dias, e a permanência no país já passa de um mês. Além disso, a mãe de Nayara é hipertensa e faz uso de medicação controlada, o que a coloca no grupo de risco. “Estamos de mãos atadas, esperando por um milagre. O consulado só nos orienta preencher formulários e responder e-mails sem nenhuma resposta concreta”, relatou.
Além de Nayara, outros 47 brasileiros estão na mesma situação. Pela internet, o grupo se reuniu e resolveu gravar um vídeo pedindo ajuda do governo brasileiro. Segundo a jornalista Beatriz Campilongo, que tomou a iniciativa da ação, o consulado brasileiro até agora não tomou nenhuma medida. “Entrei em contato diversas vezes com eles. Nos dizem que vão estudar o que fazer, mas até agora nada. Já tive cinco passagens canceladas e há mais de um mês estou presa aqui.”
Beatriz, que mora em São Paulo, foi ao país para buscar seu passaporte italiano. A jornalista levou reserva financeira para ficar um mês e já está há quase dois. “Estou sozinha em um país em que eu não falo a língua. Meu dinheiro está acabando e eu não sei o que será de mim se o governo não nos resgatar”, diz.
🆘ESTE É UM PEDIDO DE SOCORRO ÀS AUTORIDADES BRASILEIRAS!!! 🆘 #covid19 #AjudaItamaraty Consulado-Geral do Brasil em Roma…
Posted by Beatriz Ramalho Camp on Tuesday, April 7, 2020
O mesmo aconteceu com a relações públicas Júlia Souza Lima, de 31 anos, que foi à Itália reconhecer sua dupla cidadania. Tudo ocorreu como programado e Júlia recebeu seus documentos em 10 de março. No entanto, no mesmo dia, as restrições por conta da crise do coronavírus acabou prendendo-a no país. “Tenho alguns dias para sair da acomodação onde estou e não sei para onde ir. Estou sem trabalhar e minha família, afetada pela crise, não consegue me ajudar.”
Júlia também faz uso de remédios, para controle de ansiedade e depressão, e deve ficar sem a medicação em breve. “Se eles não vierem nos resgatar, não sei o que será. Não tenho plano B, não tenho grana para me manter por muito mais tempo aqui. Estamos tentando negociar com o Itamaraty, mas sem sucesso por enquanto”, relata.
Procurado, o Itamaraty respondeu dizendo que rotas de retorno ao Brasil da Itália, por via comercial, continuam disponíveis, apesar de considerável redução nos últimos dias. A reportagem apurou e não encontrou nenhum voo disponível para o próximo mês, ao contrário do que afirmou o governo.
“Sabemos haver severas restrições de movimentação no interior do país e normas estritas de isolamento social em vigor, o que reduz o leque de opções disponíveis para a repatriação. A situação está sendo considerada pelo governo brasileiro e continuamos a explorar todas as possibilidades que permitam a repatriação dos brasileiros”, disse o Itamaraty.
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