Sociedade

Queda do olavismo? Para filha, é Olavo de Carvalho quem mais precisa do governo agora

Mudança ministerial tirou fôlego de ala ideológica. Pela fama, agora é o guru quem precisa mais do governo, avalia Heloísa de Carvalho

(Foto: Reprodução)
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Ela o chama de guru com mais frequência do que de pai, mas esse não é um detalhe movido por admiração. Ele, Olavo de Carvalho, já é amplamente conhecido como um dos nomes mais influentes do bolsonarismo. Ela, Heloísa de Carvalho, diz querer “desmascarar” a pessoa por trás de um mito construído.

Se somente o próprio governo, que se retroalimenta do filósofo, pode derrubá-lo da posição que adquiriu, a desarticulação do setor olavista para os militares – como a mudança de ministério de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que abriu caminho para o general Braga Netto assumir a Casa Civil – pode ser uma pedra no sapato de quem já tem muito a perder.

Ao escrever o livro “Meu Pai, o Guru do Presidente – A Face Ainda Oculta de Olavo de Carvalho”, lançado em parceria com o filósofo e youtuber Henry Bugalho no fim de 2019, Heloísa argumenta que apenas o próprio bolsonarismo pode acabar com o trono do pai perante seus seguidores.

Para a filha, o saldo de mais de um ano sob os holofotes do governo federal é que, agora, é Olavo quem precisa mais do governo do que o contrário.

“O que impulsionou o Olavo foi a família Bolsonaro, foi o grande up no nome dele. Ele nunca foi uma pessoa com pretensões de ficar rica. Claro que ter dinheiro é bom e ele está pegando esse gostinho, mas a ideia sempre foi ser reconhecido, ser famoso, ovacionado, porque existe ali uma mente doente”, diz Heloisa, que chegou a escrever até um livro sobre a convivência com o pai nos tempos de infância e adolescência, antes de Olavo mudar para os Estados Unidos, onde mora até hoje.

Com a repercussão do livro, ela conta que tem recebido relatos de pessoas “chocadas” e que estão “espalhando para toda a família” sobre a história contada do guru. Ainda adorado por figuras como os filhos do presidente, Eduardo, Carlos e Flávio Bolsonaro, o filósofo deve se garantir em seu pedestal de intelectual da direita por mais um tempo.

Para Heloísa, que foi alvo de dois processos e uma investigação por formação de quadrilha por mexer no vespeiro do pai, Olavo manipula para não largar o osso: a projeção nacional deu a ele a fama necessária para a co-dependência do bolsonarismo.

O guru ainda faturou alguns elementos bônus para sua família: “Olavo conseguiu emplacar três ministros, fora aquele bando de olavete. Conseguiu uma promoção para o meu cunhado, que é diplomata”, diz, e cita a nomeação de Henri Carrières, que já trabalhava com o assessor especial da Presidência Filipe Martins, e que acabou sendo promovido a trabalhar na embaixada do Brasil em Londres.

Motivada a contar o seu lado da história, que incluiu uma infância desassistida de educação formal e de atenção, segundo ela, Heloísa foi buscar mais relatos também com ex-alunos e seguidores do guru. No fim das contas, todos acabaram sendo processados por Olavo, que exigia provas do que era relatado.

“Cheguei a ser questionada por não colocar todas as provas, mas eu não ia editar uma enciclopédia. As provas estão aqui gravadas e distribuídas para pessoas em quem eu confio”, afirma Heloísa.

Ela, que conhece bem a articulação do pai, diz que tentar contestar os apoiadores do olavismo pela verdade é perda de tempo. A insistência, porém, pode render bons frutos. Em algum momento, avalia Heloísa, a família Bolsonaro pode dispensá-lo de seu papel. Resta esperar.

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