Promotoria de SP investiga se delegado youtuber lucrou com vídeos de operações

Caso confirmada, a monetização desse tipo de conteúdo pode configurar enriquecimento ilícito pela lei de Improbidade Administrativa

Delegado Da Cunha ostenta armas e símbolos da Polícia nas operações transmitidas em seu canal do Youtube. Foto: Reprodução

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O delegado e youtuber Carlos Alberto Cunha, conhecido na internet apenas como delegado Da Cunha, é alvo de um novo inquérito civil para apurar possíveis lucros com vídeos de operações policiais postados em seu canal. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.

Caso confirmada a monetização dos vídeos, o delegado pode ser enquadrado na lei de improbidade administrativa por enriquecimento ilícito, já que o uso do cargo e bens materiais da polícia para ganhos e benefício próprio é proibido por lei.

O novo inquérito foi instaurado na última quinta-feira 5 após uma apuração preliminar encontrar indícios de irregularidades. O procedimento foi iniciado com uma denúncia anônima e posteriormente abastecido com informações fornecidas pela Secretaria de Segurança Pública.

De acordo com a reportagem, fontes próximas ao delegado apontam um ganho de ao menos 400 mil reais com as publicações. O delegado nega que tenha monetizado os vídeos de operações, mas confirma que vem recebendo pelo canal nos últimos meses. Segundo declarou sem fornecer muitos detalhes, a monetização se deve à criação de um instituto em seu nome.

“Eu fundei um instituto e tive que monetizar o canal, mas já com doação de uma parte disso”, justifica o policial em vídeo recente publicado nas suas redes sociais.

 


 

Na publicação, apesar de confirmar estar recebendo pelo canal, ele nega que isso seja uma fonte de renda.

“Queria dizer que todos os vídeos de operações que estão gravados no canal foram feitas sem nenhuma monetização. Então, o canal do Youtube não é fonte de renda. Eu nunca usei a imagem da instituição. As operações não são monetizadas”, afirma o policial.

Apesar de afirmar não usar a imagem da instituição, na maior parte dos vídeos é possível ver viaturas, símbolos da Polícia Civil, armas de alto calibre e outros policiais atuando durante as operações. O uso de imagens e símbolos oficiais para benefício próprio, como aumentar o engajamento nas redes sociais, pode configurar um desvio de conduta, conforme apontam especialistas consultados por CartaCapital em reportagem recente.

O delegado youtuber é alvo de sete apurações que investigam principalmente sua atuação na internet e nas redes sociais. Recentemente, Da Cunha foi afastado das operações e teve que entregar armas e distintivo por representar ‘alto risco’ para a sociedade e para a Polícia Civil. A decisão de afastamento foi assinada pelo delegado-geral Ruy Ferraz.

Após a repercussão do caso, Da Cunha pediu licença temporária e não remunerada por dois anos. O pedido foi concedido nesta terça-feira 10. O delegado, no entanto, afirma nas redes sociais que irá continuar realizando as operações como cidadão.

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