Educação
‘Professor opressor’: Quem é o docente agredido pelo pai de uma aluna no DF
Emerson Teixeira já foi alvo do inquérito da PF que apura os atos antidemocráticos e ficou na mira da Corregedoria da Educação do DF após participar de churrasco em sala de aula para comemorar a vitória de Bolsonaro em 2018


O professor de matemática Emerson Teixeira, agredido pelo pai de uma estudante em uma escola do Distrito Federal, na segunda-feira 20, se apresenta nas redes como ‘Professor Opressor’. A alcunha aparece em um canal do YouTube com mais de 220 mil seguidores, mas sem conteúdos disponíveis.
Bolsonarista de carteirinha, o docente acumula polêmicas e já foi investigado pela Corregedoria por promover um churrasco em sala de aula para comemorar a vitória do ex-capitão nas eleições em 2018.
Na gravação divulgada pelo próprio professor nas redes, aparece ao lado de alunos em uma sala de aula enquanto assa as carnes. Ao se filmar usando a camiseta com o rosto do ex-presidente, diz entusiasmado que naquele momento “a Matemática não é importante”.
CartaCapital questionou a Secretaria de Educação do DF sobre o resultado da análise do episódio pela Corregedoria. A pasta, porém, não respondeu. Uma matéria do site Metrópoles publicada em abril de 2020 sobre o caso diz que o docente foi penalizado com a proibição de se manifestar politicamente no trabalho e a restrição de publicar imagens de estudantes nas redes sem autorização.
A agressão
No episódio recente, que culminou na agressão, alunos apontam que ele teria proferido ofensas à estudante, que, por ter problemas de visão, utilizava um celular durante a aula para copiar tarefas. As ofensas são apontadas como o estopim da confusão.
Segundo boletim de ocorrência, o pai da aluna, identificado como Thiago Lênin Sousa, entrou na sala de coordenação sem autorização, proferiu xingamentos e agrediu fisicamente o professor com socos e chutes, causando lesões na face, quebrando óculos de grau e danificando uma corrente.
Imagens de câmeras de segurança do local mostram os vários socos contra a face do professor, que só param após o homem ser contido com um ‘mata-leão’. A jovem que teria sido ofendida, na gravação, lamenta: “O que você fez, pai? Era só pra conversar”. As agressões aconteceram na sala de coordenação, na frente de outros estudantes. O caso está em investigação.
Xingamentos recorrentes
Em relato publicado na internet, uma estudante do colégio, que se diz amiga da aluna envolvida, narra que Teixeira tem o hábito de xingar os estudantes e colocá-los em situações vexatórias durante suas aulas.
No caso que culminou na agressão, o professor teria disparado palavrões contra a jovem e exigido que ela guardasse o celular. O aparelho, porém, estaria em uso como ferramenta de acessibilidade, conforme prevê as exceções listadas na legislação que barrou celulares nas escolas. O uso do celular para driblar a baixa visão, registra a colega no vídeo, teria sido comunicado aos professores.
Site ‘fora do ar’
Emerson Teixeira, além do canal do ‘Professor Opressor’ no YouTube, também mantém um site com seu nome. Assim como no canal, não há conteúdos disponíveis ao público na página. Ao acessar o endereço eletrônico, apenas uma imagem do docente com xingamentos a opositores é exibida. “Devido ao grande número de filhos da puta que morrem de inveja do meu estilo de vida fui obrigado a tirar o site do ar”, diz o texto em tela.
Créditos: Reprodução
Alvo da PF
O professor bolsonarista também já foi alvo de uma operação da Polícia Federal, em 16 de outubro de 2020. Naquela ocasião, os agentes miravam participantes de atos antidemocráticos e cumpriram 21 mandados de busca e apreensão, entre os alvos estavam o deputado bolsonarista Daniel Silveira e o blogueiro Allan dos Santos. A ação mirava uma rede de canais do YouTube que faria parte do chamado ‘gabinete do ódio’. O canal de Teixeira era um dos envolvidos.
Nas redes, Teixeira comentou a operação naquele mesmo dia. Relatou, em um post breve, que seu celular e notebook foram apreendidos. “Perdi o contato de todos e minha ferramenta patriótica”, escreveu após ter seu endereço revistado pelos policiais.
Reportagem do jornal o Estado de S. Paulo descreveu o modus operandi do esquema investigado pela PF. O ‘Professor Opressor’ e uma série de outros canais receberiam informações de dentro do Palácio do Planalto, ocupado à época por Bolsonaro, para organizar ações contra o Supremo Tribunal Federal.
“A propaganda de conteúdo extremista no campo digital culmina, de fato, em ações subsequentes: as manifestações reais contra o Estado Democrático de Direito, criando um ciclo que se realimenta, com a difusão das manifestações pelos canais de internet dos produtores, que, por sua vez, são alardeados e replicados em perfis pessoais de redes sociais de agentes do Estado, gerando mais visualizações (difusores)”, dizia um trecho da investigação da PF citado pelo jornal naquela ocasião.
Ao jornal, Teixeira disse que recebia cerca de 11 mil reais por mês com os vídeos do canal.
‘Abutres’
O professor agredido no DF também ficou conhecido por xingar jornalistas que acompanhavam Bolsonaro no extinto ‘cercadinho’ no Palácio do Alvorada. Em março de 2020, ao acompanhar da plateia o ex-capitão, Teixeira reclamou do teor das reportagens sobre o governo publicadas à época e chamou os repórteres de “abutres“. Bolsonaro, ao testemunhar as ofensas, pediu que a imprensa ficasse calada e ouvisse o que o apoiador tinha a dizer. Ao final, o então presidente endossou o discurso de Teixeira.
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