Professor da Unifesp causa revolta ao defender racismo científico em aula

Em áudio divulgado nas redes sociais, professor do curso de Medicina diz que negros e indígenas eram 'culturalmente atrasados'

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Estudantes inconformados com declarações racistas de um professor da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp, divulgaram áudio em redes sociais. Na gravação, o professor Henrique Soares, que ensina Medicina Legal, diz que os colonizadores do Brasil se depararam com pretos e povos indígenas “culturalmente atrasados”, ao explicar a noção de “raça pura”. O caso foi divulgado em primeira mão pela Ponte Jornalismo.

Soares também se refere ao Brasil como “o que tinha de pior na Península Ibérica, bandido, assassino, miserável”. Em relação aos povos indígenas, diz: “Índio atrasado. Aqui não tinha inca, não tinha os índios do México. Não tinha asteca. Nossos índios eram culturalmente atrasados. Ainda ‘importamos’ pretos que também eram atrasados, ou seja, que se permitiam escravizar.”

E conclui que, graças a isso, houve a miscigenação do povo brasileiro que resultou em “mulatos” e “mamelucos”, termos considerados racistas e já debatidos pelo movimento negro e pesquisadores.

Ouça os áudios publicados no Twitter:

 

Os alunos, que preferiram manter o anonimato, alegaram nas redes sociais que não é a primeira vez que o professor se manifesta de forma racista, bem como já proferiu frases machistas e LGBTfóbicas em sala de aula.


Outro caso de racismo no ensino superior já havia sido noticiado este ano. Em abril, estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) se mobilizaram contra homenagens a Amâncio de Carvalho, Catedrático de Medicina Legal da Faculdade de Direito de São Paulo, professor racista que mumificou Jacinta Maria de Santana. O corpo mumificado de Jacinta foi utilizado em trotes estudantis no Largo São Francisco, por quase 30 anos, de 1900 a 1929.

 

Unifesp se manifesta

A Unifesp confirmou que recebeu denúncias, por meio de sua Ouvidoria, mencionando declarações de conteúdo racistas e preconceituosas envolvendo um professor da Escola Paulista de Medicina.

Em nota divulgada via redes sociais, a instituição disse também que “está acionando os mecanismos institucionais de averiguação, para abertura de sindicância e/ou Processo Administrativo. E salientou, ainda, que não compactua com qualquer forma de discriminação ou preconceito de gênero, raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, que deve ser devidamente apurada”.

Para a Ponte, a Unifesp afirmou que, de forma célere, as denúncias foram analisadas pela Ouvidoria da Unifesp, e encaminhadas à Comissão de Juízo e Admissibilidade (CJA) no dia 17 de junho, com instauração de processo e indicação de relatoria. “Em reunião, no dia 18 de junho, a CJA realizou discussão inicial do caso e iniciará o processo de solicitação e coleta de documentos, além de manifestações dos(as) envolvidos(as), para permitir a análise de autoria e materialidade do caso”.

Ainda de acordo com a universidade o Conselho Universitário da Universidade Federal de São Paulo (Consu/Unifesp) aprovou a Resolução 194/2021, que trata das diretrizes, princípios e fundamentos para a construção da Política de Promoção da Equidade e Igualdade Étnico-racial, Prevenção e Combate ao Racismo da Unifesp.

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