Sociedade

População de rua cresceu 38% nos últimos 4 anos, indica o Ipea

Aumento equivale a mais de 281 mil pessoas em situação de rua no Brasil; os números podem estar subestimados

Aglomeração de pessoas em situação de rua na Cracolândia é um problema histórico de São Paulo. Foto: Rovena rosa/Agência Brasil/2017
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A população em situação de rua no Brasil cresceu 38% entre 2019 e 2022, segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, nesta quinta-feira 8. Ao todo, segundo o instituto, 281,4 pessoas estão vivendo nas ruas neste momento. Ao comparar com 2012, início da série histórica, o salto é de 211%.

Segundo o estudo, em 2012, o número de pessoas em situação de rua no Brasil era de cerca de 90,4 mil pessoas, tendo chegado a cerca de 185 mil em 2018. Desde então, passou a ser de mais de 200 mil pessoas. Em 2019 o volume era de cerca de 205 mil, passando a 214 no ano seguinte, 232 mil em 2021 e, por fim, aos mais de 281 mil registrados atualmente.

Parte deste aumento, dizem os pesquisadores, foi motivado pela pandemia de Covid-19. Mas a doença, alegam, não deve ser tomada como a única explicação, uma vez que os números já apresentavam tendências de crescimento antes do surgimento do vírus. Outra conclusão do grupo é de que não se pode também tomar o aumento como fruto do incremento populacional no País, visto que este só avançou 11% na última década, ficando bem abaixo do índice de pessoas em situação de rua.

Além dos dados gerais, o documento ainda desmembra os números em dois segmentos. O primeiro deles mostra avanços significativos em todas as regiões do País. Já o segundo recorte realizado é o que relaciona a população de rua com o tamanho do município. Há aqui o apontamento para cidades de pequeno, médio e grande porte, além dos números registrados nas metrópoles.

Os números divulgados nesta quinta-feira, alerta o instituto, podem estar subestimados. Isso porque, conforme destaca o Ipea, os dados usados são fornecidos por prefeituras, mas divergem significativamente de levantamentos alternativos realizados por organizações não governamentais, em especial, nas grandes metrópoles.

“Como essas fontes alternativas via de regra indicam um número de pessoas em situação de rua maior que as fontes oficiais, na medida que essas fontes alternativas forem mais acuradas que as utilizadas, a estimativa a ser apresentada nesse estudo terá um viés de subestimação”, alerta o Ipea.

A preferência pelos dados de órgãos oficiais, justificam, se dá em um esforço de ampliar as fontes de informações sobre este tema. A intenção, dizem, é evitar um apagão histórico destes dados caso não se tenha um incentivo para que eles sejam atualizados.

“É frente a essa realidade concreta que se faz relevante para este segmento que eles ‘sejam contados’, oficialmente e literalmente, como passo necessário para o reconhecimento dos mesmos como sujeitos de direitos”, destacam os autores na publicação.

“É bem mais difícil a contagem de pessoas não domiciliadas do que aquelas com endereço fixo. Por conta disso, é importante ressaltar que o que é possível medir, strictu sensu, é o número de pessoas em situação de rua que o Estado consegue enxergar”, acrescentam ainda os pesquisadores sobre a dificuldade em se ter exatidão nos dados coletados.

A conclusão do estudo, novamente, é a de que, sem os dados exatos, a população em situação de rua segue sendo prejudicada e vítima de uma violência praticada pelo Estado. Um exemplo citado é dificuldade do Ministério da Saúde em alocar um número adequado de vacinas contra a Covid-19 para essa população durante a pandemia. Há ainda outros problemas como a dificuldade no acesso ao Sistema Único de Saúde ou mesmo ao recebimento de benefícios sociais, como o Auxílio Brasil.

Leia abaixo a íntegra da “Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil (2012-2022)”:

NT_Estimativa_da_Populacao_Publicacao_Preliminar

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