Sociedade

Pai de adolescente que matou 4 em escolas no ES nega que o tenha ensinado a atirar

O policial militar disse que espera que o filho seja punido e que não se omitirá em responder por omissão de cautela com as armas

Foto: Reprodução
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O pai do adolescente que promoveu um ataque contra duas escolas no Espírito Santo afirmou que o filho precisa ser punido pelo ato e negou que o tenha treinado para lidar com armas. As declarações foram dadas em entrevista ao Estado de S. Paulo.

“Estão achando que eu sou um grande monstro, que treinei meu filho, que dei minha arma para ele, que induzi ele a fazer isso”, disse o policial militar, que ainda declarou que não pretende evitar a punição que sofrerá por ter falhado no acautelamento da arma do Estado que mantinha em casa. “Estamos arrasados. Se eu pudesse, pediria perdão a cada parente dessas vítimas.”

Durante o ataque, que deixou 4 mortos – três professoras e uma estudante de 12 anos – o adolescente utilizou duas armas do pai, que é tenente da Polícia Militar. Uma delas era uma pistola da corporação.

O PM, que não teve o nome divulgado, disse que desde o ataque vem sofrendo ameaças pelas redes sociais. “Tem a dor do acontecimento e a pressão da sociedade que está sendo inflamada com notícias falsas a meu respeito. Estão tomando isso como verdade. É a pior situação que está tendo no presente momento. Estão me ameaçando. Estão me julgando conforme o que estão lendo nas redes sociais sem nem me conhecer direito. Estão escrevendo coisas terríveis a meu respeito, disseminando mais ódio”.

O policial disse ainda que o fato de ter tido interesse pelo livro Mein Kampf, uma autobiografia de Adolf Hitler, e feito uma publicação sobre a obra  em suas redes sociais não faz dele um nazista. A venda e a circulação da obra é proibida em algumas cidades do país, como ocorre no Rio de Janeiro.

“Não tem censura nenhuma contra o livro. O fato de você ler um livro desse faz você ser nazista? Eu fiz um comentário sobre leitura. Disse que ler causa a expansão da consciência. Estão dizendo que eu sou bolsonarista, que eu gosto que as pessoas andem armadas. Eu não sou bolsonarista nem lulista. Tenho dois projetos sociais aqui na minha cidade voltados para atendimento de psicoterapia totalmente gratuito”, justificou.

O pai do adolescente disse que ao saber do atentado nas escolas chegou a conversar com o filho por telefone orientando que ele se protegesse em casa, ainda sem saber de sua autoria. O PM, que estava fora da cidade no momento do ataque, o encontrou em casa, e fez um almoço junto com o jovem e a mãe, antes de saírem para resolverem questões pessoais na rua. O PM narrou que só soube da suspeita sobre o filho quando estava na cidade de Mar Azul, a uns 5 km de Coqueiral, e foi abordado por uma viatura da polícia.

Ainda de acordo com o PM, o filho não manifestava interesse pelas suas armas e teria aprendido a atirar em vídeos do Youtube. “Ele nunca demonstrou interesse nenhum nas minhas armas. Ele sempre gostou de ver armas e entendia muito de armas, com vídeos do YouTube. Gostava muito de ver vídeo no YouTube, gostava de ver vídeos de armas e de jogos. Se você me pedir uma prova eu não tenho como te dar, mas eu acredito e tenho forte intuição de que meu filho foi manipulado, foi induzido por bandidos, por pessoas realmente malignas, satânicas, que estão nas redes sociais pescando um jovem ou outro que tenha a mente um pouco fraca. Fisgam esses jovens, trabalham na mente deles e levam eles a cometer esse tipo de atitude. Eu acredito que foi manipulado por pessoas assim, mas eu não posso provar ainda. O celular dele já está com a polícia, o computador dele também”.

Sobre o comportamento do filho, o policial citou um caso de bullying sofrido pelo adolescente na escola e a percepção de uma mudança comportamental no jovem a partir de 2019. “A gente viu que ele ficou uma pessoa mais introvertida e ele era bastante extrovertido. Era muito risonho, conversador, e ele se fechou, a partir do final de 2019. Ele se isolou socialmente dos colegas. Devido a esse isolamento, começou a procurar interação nos jogos. A rede social que ele mais usava era o YouTube, com os vídeos. Ele gostava muito do tema da Segunda Guerra Mundial. Não sei como aflorou esse gosto nele. Era muito fissurado em História, em Sociologia, alguma coisa de Filosofia. Apesar da idade precoce, aflorou esse gosto nele”.

O PM também comentou sobre o fato de o filho ter tido acesso às suas armas. “Eu já tenho noção que vou responder por omissão de cautela, que é o crime quando você se omite dos cuidados da arma sob sua cautela e alguém utiliza de forma indevida. Foi o que aconteceu com a arma da corporação que estava comigo. Eu sei que vou responder, mas é como te falei: não quero nenhum tipo de impunidade. Foi um erro meu, que eu responda. Não quero livrar nem minha cara não. Vou ser punido, sim. Não vou ficar inventando defesa mirabolante com advogado não. Assim como quero que meu filho seja punido dentro dos rigores da lei”.

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