Sociedade

Padre Julio Lancellotti quebra pedras sob viadutos e critica Prefeitura

Para o pároco, ação tinha como alvos os moradores de rua; segundo a administração municipal, o servidor responsável foi exonerado

Créditos: Henrique de Campos Créditos: Henrique de Campos
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O padre Julio Lancellotti publicou nesta terça-feira 2 uma imagem em suas redes sociais em que quebra a marretadas as pedras que foram colocadas pela Prefeitura de São Paulo embaixo de um viaduto na zona leste da capital paulista.

“Colocaram deliberadamente, de forma agressiva, contra os moradores de rua e os que trabalham com suas carroças na região”, afirmou o coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo.

“No início, alegaram que era para impedir o despejo de entulho, mas aquela estrutura não ia impedir o descarte de lixo. Que fizessem um ecoponto então”, acrescentou.

Ainda de acordo com Lancellotti, equipes da Prefeitura atuavam na manhã desta terça para retirar a instalação. “Mandaram tirar porque repercutiu muito mal. Agora, eles não informam quanto custou a instalação, nem quanto vai ficar a retirada”, diz o padre.

Ele afirma ter visto cinco caminhões da gestão municipal, além de duas escavadeiras, três técnicos e mais de 30 funcionários na operação de retirada.

As pedras foram instaladas na quinta-feira 28 sob os viadutos Dom Luciano Mendes de Almeida e Antônio de Paiva Monteiro, ambos na avenida Salim Farah Maluf.

Em nota enviada a CartaCapital, a Secretaria Municipal das Subprefeituras informou que a implantação das pedras foi uma decisão isolada e que não faz parte da política de zeladoria da gestão municipal, tanto é que foi imediatamente determinada a remoção.

Ainda em nota, a pasta afirma que a Secretaria responsável (SMSUB) instaurou uma sindicância para apurar os fatos e os valores envolvidos,  além de exonerar do cargo o funcionário responsável.

Segundo censo feito pela Prefeitura em 2019, a capital tem 24.344 moradores de rua. Do total, 8,8% ocupavam baixos de viadutos.

A região da Subprefeitura da Mooca, onde ficam os viadutos que receberam as pedras, concentrava 835 pessoas em situação de rua, ficando atrás apenas da Subprefeitura da Sé (7.593).

Para o padre Julio, as políticas sociais direcionadas a essa parcela da população não avançam “porque não levam em conta a autonomia, a real necessidade das pessoas”.

Com a palavra, a Prefeitura

A Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal das Subprefeituras, informa que a implantação de pedras sob viadutos foi uma decisão isolada, não faz parte da política de zeladoria da gestão municipal, tanto é que foi imediatamente determinada a remoção. A SMSUB instaurou uma sindicância para apurar os fatos, inclusive o valor, e um funcionário já foi exonerado do cargo.

Desde março de 2020, a Prefeitura ampliou os serviços aos moradores em situação de rua. A SMADS criou durante a pandemia 1.969 novas vagas, entre elas 430 vagas para hospedagem de idosos em situação de rua já acolhidos na rede socioassistencial em nove hotéis (oito na região central e um na região norte). Das vagas criadas durante a pandemia, 1.283 estão em funcionamento. Os equipamentos funcionam 24 horas e são voltados a diversos perfis.

A Ação Vidas no Centro oferta sanitários e banhos, além de lavanderias, para pessoas em situação de vulnerabilidade social na região do Triângulo SP e Centro Histórico. Até o dia 25 de janeiro, foram realizados 1.288.343 atendimentos em sete estações, considerando todos os serviços oferecidos.

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania também distribuiu, na pandemia, 2.043.215 refeições e 222 mil litros de água, em parceria com restaurantes credenciados, inclusive na região da Mooca, abordada pela reportagem.

Além disso, a Prefeitura, em 2019, realizou o Censo de moradores de rua, que além de quantificar a população que vive nesta situação, permite qualificar as políticas públicas desenvolvidas em todo o território do município. No levantamento, foram identificadas 24.344 pessoas estão em situação de rua na cidade de São Paulo, sendo 11.693 acolhidos na rede socioassistencial e 12.651 em situação de rua.

Informações complementares – Procedimentos de abordagens

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), por meio do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS), realiza busca ativa para abordar pessoas em situação de rua e oferece acolhimento nos equipamentos da rede socioassistencial. Importante ressaltar que o aceite é voluntário.

Os viadutos Antônio de Paiva Monteiro e Dom Luciano Mendes de Almeida tem o monitoramento diário do SEAS Mooca, que intensifica a ação quando há pessoas em situação de vulnerabilidade no local com atendimentos de orientação à saúde, documentação, obtenção de benefícios dos programas de transferência de renda e encaminhamento para Centros de Acolhida.

A população também pode ajudar solicitando uma abordagem social pela Central 156 (ligação gratuita). O acionamento da abordagem pode ser anônimo, é importante informar o endereço da via em que a pessoa em situação de rua está (o número pode ser aproximado), citar pontos de referência, características físicas e detalhes das vestimentas da pessoa a ser abordada.

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