Sociedade

Os produtores conseguirão segurar a onda pessimista

Seguir ingenuamente a onda pessimista que “varre” o País, como especulam as folhas e telas cotidianas, é entregar-se direto aos braços do Cão

Quem anda pelos canaviais paulistanos percebe que a seca castigou mais do que devia e fez cair a produtividade
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Pois vejam só, passou uma semana e eu não mudei de ideia. Não é o usual. Continuarei no tema dos preços dos alimentos.

Na última coluna, comentei sobre os grãos, responsáveis pela grande movida do comércio agrícola internacional. Juntos, costumam carregar os preços de carnes, óleos, farelos, papinhas.

As produções previstas nos grandes países exportadores e o crescimento dos estoques finais estão pondo em polvorosa os hectares plantados nos EUA, Brasil e Argentina.

Sugiro calma. No panic, por favor, amigos que me receberão por alguns dias em sertões e veredas, para que parto.

O perrengue não é pra já. Seguir ingenuamente a onda pessimista que “varre” o País, como especulam as folhas e telas cotidianas, é entregar-se direto aos braços do Cão.

Estou certo de que os produtores conseguirão segurar a onda. A demanda será maior do que a prevista. Baixem, também, seus custos. Não temam economizar com agroquímicos trocando-os por produtos mais baratos, de extração orgânica, e de eficácia semelhante.

Vejo isso funcionando o tempo todo entre sábios agricultores que acolhem tecnologias que não têm a atenção do governo e do poder das indústrias multinacionais.

Falemos, pois, de outros produtos. A cana-de-açúcar, por exemplo. A mais chorada dos últimos anos (já pressinto o meu amigo Fernando Machado a ponderar, embora o seu Goiás já seja o 2.° maior produtor da gramínea).

Segundo a Conab, devemos plantar 320 mil hectares a mais de cana, crescimento de 3,6% sobre a safra anterior.

Quem anda pelos canaviais paulistanos percebe que a seca castigou mais do que devia e fez cair a produtividade. Não muito, 1,6%. O aumento da área plantada e a produtividade no Nordeste farão a produção crescer 2%.

Tá bom demais, pois contribui para não afetar negativamente os preços do açúcar, em elevação ao redor de 20%, em 2014.

Do etanol, cuidará o próximo governo. Não sou pitonisa, mas na sequência da mais recente e estranha pesquisa Datafolha (CartaCapital explica bem) sugiro conversas com Nelson Barbosa, Armínio Fraga ou André Lara Resende, na ordem.

Ainda que depois do 2.° turno, garantido pelo jornal que patrocina o Instituto.

Cafezinho mineiro, ah este é melhor tomar quentinho junto com varandas e ouvindo um disco do Xavantinho e Pena Branca. Os cafeicultores nunca sabem o quanto irão colher, o que farão os vietnamitas e seus chapéus cônicos, e se os colombianos preferirão homenagear o magistral escritor Gabriel García Márquez ou o craque James Rodríguez.

Choravam a R$ 260 a saca de 60 kg; não as vendem a R$ 400; esperam que chegue aos R$ 600. Se não chegar é simples: basta não pagar quem os financiou. Como se sabe, ao contrário de cigarros de palha, o café, guardado em condições adequadas, dura um tempão.

E o arroz, o feijão, os tubérculos? Escrevi na coluna anterior. Todos na espreita, para ver quem dispara primeiro entre os 1° e 2° trimestres de 2015.

Não recomendo saírem por aí fazendo estoque como diligentes formigas. O arroz, apesar das inundações sulinas, cresce 3,1% a produção; o número de sacas de feijão será 26% maior. Hora de vocês se matarem de rir de quem os privou da feijoada semanal, segundo a TV Globo.

Entre os tubérculos, a batata teve preço recorde, em 2013. Na sequência plantou-se muito. Caiu, mas ainda dá para ganhar algum. Se continuar caindo, e vocês enjoarem do purê, deem-nas de presente aos queridos alemães, pela reconhecida condescendência germânica de pararem no 7° gol e não ferirem mais o nosso orgulho. Será uma merecida retribuição.

Sempre haverá, no entanto, alguns produtos para mostrar que os alimentos estão pela hora da morte. Isso atende perfeitamente o inquebrantável Fla-Flu político brasileiro.

Os olhos de William e Patrícia, no Jornal Nacional, poderão se espantar com o caqui, a beterraba, o cará, as endívias, sei lá. Tudo pode acontecer neste mundo de Deus, onde quem planta tem culpa e quem come tem fome.

Chuchus e tomates, deixo aos sabores e conhecimentos técnicos de ministros e economistas-chefes de instituições financeiras.

Vou dar uma andada por uns sertões brasis. Volto logo, um cordel aqui outro ali. Carregarei comigo uma preciosidade encontrada empoeirada em minha estante: A Crise Agrária, de Alberto Passos Guimarães (Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1979).

Na volta, conto o que encontrei nessa releitura. Será interessante saber o que se achava do como ficou.

Se eu não mudar de ideia, é claro.

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