Política

O erro que Lula não pode cometer no plano para a segurança do Rio, segundo especialista

Ações do governo federal não poderão operar pela lógica de repressão policial do governo de Cláudio Castro sob o risco de se ampliar o problema, avalia o sociólogo Daniel Hirata

O presidente Lula. Foto: Evaristo Sá/AFP
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O presidente Lula afirmou nesta terça-feira 24 que o governo federal ampliará ações de combate ao crime organizado e milícias no Rio de Janeiro, inclusive com a possibilidade de uso de membros das Forças Armadas em alguns setores.

Na última semana, diante da escalada da violência no estado, o governo já ampliou significativamente a presença de agentes federais no Rio. Por ora, uma intervenção é descartada.

Os anúncio robustos, no entanto, levantam um alerta para um possível erro que pode ser cometido por Lula – e Flávio Dino – ao executarem o plano nacional de combate ao crime no Rio. A avaliação foi feita pelo sociólogo e coordenador Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos na Universidade Federal Fluminense, professor Daniel Hirata, em entrevista ao programa Direto da Redação, veiculado no canal de CartaCapital no Youtube.

Segundo defende Hirata, é preciso cautela para que o governo não ‘caia na armadilha’ de apenas participar das ações planejadas pelo governador Cláudio Castro, que possuem uma ótica exclusiva de repressão. A atuação federal, defende o especialista, precisa se pautar em uma lógica de compartilhamento de informações e inteligência.

“O enfrentamento ao crime organizado no Rio é exclusivamente repressivo com força policial”, destaca. “Se o governo federal entrar como co-partido deste tipo de ação do governo Cláudio Castro, nós vamos não só ter uma ineficiência reiterada, como o governo federal vai ser arrastado na lama da gestão Castro”.

Na segunda-feira 23, 35 ônibus e um trem foram queimados após a morte do miliciano Matheus da Silva Rezende durante uma operação policial na capital carioca. A ação, além de uma resposta, teria sido uma forma da milícia deslocar integrantes foragidos enquanto as forças policiais atuavam nos focos de incêndio.

Sobre o caso, Hirata pondera que o uso extensivo das operações policiais como uma ferramenta de repressão no governo Castro tornou-se parte do problema no combate às milícias no Rio de Janeiro. É justamente neste ponto, defende, que ‘mora o perigo’ para o Planalto.

Ao oferecer às forças policiais o uso quase ilimitado da força e das vidas na comunidade, o governador teria criado uma moeda de troca que alimenta a dinâmica de disputa no Rio.

“Isso permite que os policiais atuem de forma bruta. Essa brutalidade torna-se objeto de negociação, entre o maior e menor uso de força já que não há uma prestação de contas”, avalia.

Hirata sustenta que o plano de segurança do governo federal será efetivo e positivo se focar em ações contra as bases econômicas e políticas das milícias. Para isso, reforça, será preciso ‘romper com essa lógica de repressão policial’. Na prática, avalia, os agentes federais não devem ser submetidos ao controle de Castro na condução das próximas operações.

Assista a íntegra da entrevista:

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