Sociedade
‘O Brasil Fala’: projeto quer facilitar o diálogo entre cidadãos que pensam diferente
Como parceira de mídia, ‘CartaCapital’ oferecerá aos leitores a oportunidade de participar da iniciativa


A solidificação de posições políticas, econômicas e morais intransigentes e a transformação em inimigo de quem pensa diferente tornaram-se um fenômeno global. Diante desse cenário de intensa polarização, como é possível estimular o diálogo entre os cidadãos de posições divergentes? A pergunta está na base de um projeto que acaba de ser lançado no País e que tem CartaCapital na lista de parceiros de mídia.
O Brasil Fala é a versão local do My Country Talks, iniciativa nascida em 2017 na Alemanha e estendida desde então a mais de cem nações e quase 300 mil participantes. “Neste ano, estamos com um programa voltado para a Europa, com foco em 39 países do Velho Continente e um evento nacional na Alemanha, além do lançamento no Brasil”, descreve Sara Cooper, gerente do projeto. O Brasil Fala é fruto de uma parceria entre pesquisadores da Universidade de Stanford com o Instituto Sivis, think tank apartidário e sem fins lucrativos. Com mais de 200 milhões de habitantes, alto engajamento digital e forte antagonismo político nos últimos anos, o País era um candidato natural a receber uma versão do programa.
O objetivo do projeto é conectar cerca de 10 mil brasileiros em conversas online por meio de uma plataforma exclusiva e segura. Os diálogos começaram na quinta-feira 20 e se estendem até 21 de julho. Depois de compilados e analisados, os resultados serão divulgados ao público. Como parceira de mídia, CartaCapital oferecerá ao longo das próximas semanas links, tanto no site quanto nas redes sociais, para os interessados em fazer parte das conversas. A participação é espontânea e gratuita. Quanto maior a coleta de visões distintas dos temas, mais precisa será a interpretação do momento político e social.
Como participar:
Para participar, basta preencher o formulário a seguir ou então, acessar o site mycountrytalks.org.
Os leitores responderão a um curto questionário com perguntas sobre política, economia e sociedade, selecionadas pela equipe do projeto. Um algoritmo fará um pareamento de participantes com opiniões divergentes. Combinado um horário comum, os selecionados vão reunir-se por meio da plataforma e poderão discutir as diferenças de pensamento, que devem incluir assuntos econômicos, políticos e sociais. O encontro é privado, sem moderação, e a plataforma garante a completa privacidade dos participantes.
No início da conversa, para cada participante, vai aparecer um cartão na tela com a apresentação do perfil do interlocutor e os pontos de discordância entre os dois. Não há um direcionamento, a ideia é que o diálogo seja espontâneo. “O que se observou, nos casos internacionais, é que as falas tendem a começar a partir dessa conversa casual, conforme o que se vê no perfil do seu par, e depois elas evoluem para outros assuntos.
Em alguns casos, as conversas duram muito tempo, cerca de duas horas. Em outros, 20 minutos. Isso varia muito, a depender dos pares. Mas essas informações iniciais dos perfis ensejam uma conexão para o começo da interação”, afirma Fernanda Andrade, do Instituto Sivis.
Segundo um estudo dos economistas Adrian Blattner, da Universidade Stanford, e Martin Koenen, da Universidade Harvard, uma única conversa no My Country Talks entre opostos políticos tende a reduzir significativamente a polarização afetiva. O estudo concluiu que uma conversa não moderada no âmbito da iniciativa realizada na Alemanha, com 15 mil participantes, em 2021, diminuiu os sentimentos negativos dos participantes em relação àqueles com visão política divergente. Depois de um diálogo por meio da plataforma, os voluntários foram mais generosos em partilhar dinheiro com simpatizantes de outros partidos políticos e também disseram que viam o seu interlocutor de forma tão positiva como alguém do seu próprio partido, mesmo se o parceiro fosse de ideologia completamente oposta. No estudo, perto de 90% dos entrevistados relataram que a conversa durou mais de uma hora e 33%, que foi além de duas horas.
“Do lado dos participantes, o resultado mais importante é que a maioria está extremamente satisfeita com a experiência. Cerca de 80% deles dizem que estão felizes com a conversa e 90% alegaram que participariam novamente no futuro. Também temos resultados de pesquisas de Harvard, Stanford e da Universidade de Bonn, na Alemanha, que mostram que uma conversa pode mesmo reduzir os níveis de polarização, bem como fazer com que os participantes aceitem melhor amigos e familiares com diferentes pontos de vista políticos”, diz Cooper.
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