Sociedade

Núcleo com fotografias do MST voltará a compor exposição do Masp

O cancelamento do núcleo Retomadas foi marcado por desentendimento entre o Museu e as curadoras responsáveis

A fachada do Museu de Artes de São Paulo Assis Chateaubriand. Foto: Reprodução/Facebook
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O Museu de Artes de São Paulo Assis Chateaubriand, o Masp, comunicou nesta segunda-feira 13 que a exposição Histórias Brasileiras exibirá as fotografias que haviam sido excluídas no episódio que resultou na demissão da primeira curadora indígena da instituição, Sandra Benites.

As seis obras fazem parte do núcleo Retomadas, um dos oito núcleos da mostra. Os itens, que retratam situações que envolviam o MST, haviam ficado de fora por conta de um desentendimento entre o Masp e as curadoras do núcleo sobre o prazo de cumprimento de exigências contratuais.

De acordo com o Masp, a exposição agora tem o início previsto para 26 de agosto e o encerramento para 30 de outubro deste ano. Anteriormente, a abertura estava projetada para o dia 1º de julho.

Segundo a descrição oficial, Histórias Brasileiras ocorre por ocasião das celebrações do bicentenário da Independência do Brasil e tem como objetivo dar visibilidade a “histórias sociais ou políticas, íntimas ou privadas, dos costumes e do cotidiano, a partir da cultura visual”. A direção curatorial é de Adriano Pedrosa.

Sandra Benites, que assina um projeto no Masp pela primeira vez após três anos como curadora adjunta, pediu dispensa do cargo em 17 maio, numa carta enviada à instituição.

Procurada por CartaCapital, Benites informou que a sua decisão pela demissão está mantida, mas o processo será concluído apenas depois do período da exposição. A reportagem procurou Clarissa Diniz, a curadora adjunta do núcleo, mas não obteve resposta.

A sinalização de um acordo para evitar a exclusão do núcleo partiu de uma nota do Masp divulgada em 20 de maio. Àquela altura, tanto o Museu como as curadoras já haviam expressado discordâncias em público: enquanto a instituição dizia que os prazos não haviam sido cumpridos por Benites e Diniz, elas alegaram que não tinham conhecimento sobre as datas impostas, uma vez que o calendário do contrato já estava sendo ignorado.

O Museu propôs, então, o adiamento da abertura da exposição para reorganizar o cronograma e incluir novamente o núcleo. Na ocasião, a instituição chegou a dizer que “busca aprender com este episódio” e que observou “falhas processuais e erros no diálogo com as curadoras”.

Em 26 de maio, Benites e Diniz divulgaram uma carta em que afirmaram “satisfação” pela nota do Masp. Ao mesmo tempo, elas elencaram propostas para firmar o acordo.

As curadoras solicitaram que o Masp não detivesse os direitos autorais patrimoniais referentes às fotografias do núcleo. Além disso, propuseram que as obras fossem reconhecidas como um trabalho copyleft, em que fossem extintas barreira para a sua utilização, difusão ou modificação.

Outro pedido é de que houvesse uma publicação online com documentos sobre o processo de criação e de realização do núcleo, com coedição do Masp e da editora de livros Expressão Popular, ligada ao MST. Elas pleitearam, ainda, que o acesso ao núcleo fosse gratuito, ou que fossem ampliados os dias de gratuidade para a exposição.

O Masp não deu detalhes sobre as condições da reentrada do núcleo na mostra e se limitou a dizer que “mais informações serão divulgadas amplamente à imprensa dentro das próximas semanas”.

O Museu é uma instituição privada que foi fundada em 1947 pelo empresário Assis Chateaubriand, famoso por ter inaugurado a extinta TV Tupi. A sua gerência é realizada por um conselho deliberativo liderado por Alfredo Egydio Setúbal, que também é diretor-presidente da holding que controla o banco Itaú.

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