Sociedade

Nove crianças Yanomami morrem por falta de atendimento em dois meses, diz associação

Garimpo ilegal está por trás de mortes provocadas por doenças tratáveis; subnotificação esconde realidade ainda pior

Foto de criança Yanomami desnutrida virou símbolo da tragédia humanitária vivida pelo povo Foto: Divulgação
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*Murilo Pajolla

A falta de acesso à saúde na Terra Indígena (TI) Yanomami já provocou a morte de nove crianças indígenas desde o final de julho deste ano. No maior território indígena do Brasil, os atendimentos estão comprometidos por causa da expansão do garimpo ilegal.

A denúncia foi feita em um ofício da Hutukara Associação Yanomami encaminhado há duas semanas ao Ministério Público Federal (MPF), Funai, Exército e Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami.

O documento afirma que as vítimas tinham doenças facilmente tratáveis, como diarreia, verminoses e síndromes respiratórias. Segundo a Hutukara, as causas são a “desassistência à saúde generalizada na região” e a captura da estrutura de por garimpeiros ilegais, que já atuam em metade das comunidades da TI.

“Como se vê, a maioria dos postos de saúde foram fechados em razão da sensação de insegurança, que por sua vez é efeito direto do avanço do garimpo ilegal”, denuncia a Hutukara.

A organização pediu a expulsão imediata dos garimpeiros com auxílio da Força Nacional, além da reabertura de todos os postos de saúde, como forma de garantir atendimento ininterrupto às comunidades.

Subnotificação esconde realidade ainda mais grave

O monitoramento por satélite feito pela Hutukara indica que o garimpo está em franca expansão. Uma área equivalente a 1100 campos de futebol foi degradada entre janeiro e agosto deste ano. O número supera em 35% o acumulado de todo o ano passado.

Na Serra do Surucucus, região onde foram registradas mortes de crianças, seis postos de saúde foram abandonados, segundo a organização indígena. Já em Homoxi, a unidade deixou de prestar atendimentos há um ano após cair nas mãos dos mineradores ilegais, que usam o local na logística do garimpo.

“A realidade na área é certamente muito mais grave do que o exposto”, escreveu no ofício o vice-presidente da Hutukara, Dario Kopenawa. “É bastante provável que muitas mortes não estão sendo notificadas”.

A subnotificação se deve à falta de atendimentos regulares, especialmente nas regiões de Homoxi, Hakoma e Arathau. Ainda segundo a Hutukara, há mortes não contabilizadas por falta da presença de médicos, que são os responsáveis por assinar as fichas de óbito.

Garimpo provoca tragédia humanitária

O garimpo ilegal na terra indígena Yanomami (RR) cresceu 3.350% entre 2016 e 2021. A consequência direta é o crescimento da malária, da desnutrição infantil, da contaminação por mercúrio e da exploração sexual.

O cenário aterrador é detalhado no relatório “Yanomami Sob Ataque: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo”, divulgado nesta segunda-feira (11) pela associação Hutukara, que representa o povo Yanomami.

Os efeitos são sentidos por 16 mil moradores de 273 comunidades, o equivalente a 56% da população total. Com o tamanho de Portugal, o território Yanomami tem 29 mil habitantes em 350 aldeias.

Imagens aéreas feitas pelos Yanomami em janeiro deste ano mostram que a atividade se aproxima cada vez mais das comunidades, desmatando a floresta e poluindo os rios. Também há flagrantes de aeroportos e helicópteros utilizados para o transporte para regiões de difícil acesso.

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