Sociedade

MP denuncia bolsonarista e aponta motivos políticos no assassinato de Marcelo Arruda

O documento diverge do relatório policial, que explicou o retorno de Jorge Guaranho à festa do petista por ter se sentido humilhado

O policial Jorge Guaranho. Foto: Reprodução
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O Ministério Público do Paraná denunciou o policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho por homicídio duplamente qualificado no caso do assassinato do tesoureiro petista Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu.

A denúncia foi protocolada na tarde desta quarta-feira 20, no prazo de cinco dias a partir da conclusão das investigações pela Polícia Civil. O relatório das diligências foi entregue ao MP na sexta-feira 15.

Em entrevista coletiva, os promotores Luiz Marcelo Mafra, titular do caso, e Tiago Lisboa Mendonça, do Geaco, explicaram os princípios a embasarem a acusação.

“O MP busca agora a condenação do acusado no máximo rigor da lei, nos exatos termos em que foi elaborada a denúncia”, disse Mendonça.

Os promotores apontaram a existência de cinco laudos pendentes nas investigações. Esses estudos dizem respeito ao confronto balístico, à análise de imagens de câmeras no momento do crime, à análise do aparelho celular e do carro de Guaranho e ao laudo sobre as circunstâncias da morte do tesoureiro petista.

Conforme ofício encaminhado pelo Instituto Médico Legal do Paraná ao MP, os laudos devem ser entregues em até 10 dias. Segundo Mendonça, há urgência no oferecimento da peça acusatória, já que o não cumprimento do prazo pelo MP poderia levar à libertação do réu.

“Seria um constrangimento ilegal por parte de nós, promotores de Justiça.”

O promotor ainda afirmou que se os laudos pendentes trouxerem novas informações, a denúncia poderá ser aditada, seja para incluir uma nova circunstância fática ou possível coautor.

Conforme o documento entregue à Justiça, Guaranho estava em um evento quando foi avisado sobre a festa de aniversário do tesoureiro do PT.

A partir dessas informações, o bolsonarista se dirigiu ao local onde estava Arruda e chegou à festa com o rádio do carro tocando, em alto volume, músicas em homenagem ao presidente Jair Bolsonaro.

“Guaranho deu origem ao evento macabro ao chegar na festa de Marcelo Arruda, abrindo a janela de seu veículo, tocando música em alusão a Bolsonaro e gritando coisas como “Lula lixo”, prosseguiu o promotor Luiz Marcelo Mafra.

O tesoureiro se dirigiu ao policial penal e solicitou que ele se retirasse. Naquele momento, Guaranho puxou uma arma e sua esposa, pedindo calma, abriu a porta do carro e mostrou haver um bebê no veículo.

O bolsonarista teria, então, se retirado do local, afirmando que “voltaria e acabaria com todos”. Pouco tempo depois, Guaranho retornou à festa, bradando “aqui é Bolsonaro” e “petista vai morrer tudo”. Naquele momento começaram os disparos.

Para a acusação, Marcelo Arruda atirou contra Guaranho em legítima defesa “própria, de sua esposa e dos convidados da festa”.

O MP ainda afirmou que o agente penal não voltou ao local por ter “se sentido humilhado” por Arruda. O motivo foi “divergência político-partidária”, o que contrasta com o que disse a Polícia Civil na semana passada.

Mafra também desqualificou a existência de um crime de ódio. Segundo o membro do MP, não existem previsões legais a possibilitarem o enquadramento de grupos políticos nesse tipo penal, que protege indivíduos e grupos quanto “raça, cor, etnia, religião e procedência nacional”.

Diante dos fatos apresentados, o Ministério Público pede a condenação de Guaranho por homicídio duplamente qualificado, imbuído de fútil motivação.

O magistrado responsável pelo caso analisará a denúncia e, se a peça estiver correta sob o aspecto formal, abrirá prazo para o acusado de defender.

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