Sociedade
Mineradora que quer explorar terras indígenas no Brasil confessa esquema mundial de corrupção
Glencore pagou propina a funcionários da Petrobras em troca de vantagens na compra e venda de petróleo da estatal
A gigante da mineração e do mercado mundial de commodities Glencore International admitiu ter subornado autoridades estrangeiras e se envolvido em um esquema de manipulação do mercado de petróleo, inclusive no Brasil. A confissão dos crimes deve levar a empresa a pagar US$ 1,1 bilhão (R$ 5,3 bilhões, na cotação desta quarta, 1º) em multas e perda de lucros estimados. A Glencore é uma das quatro grandes empresas internacionais que têm requerimentos de pesquisa minerária em terras indígenas da Amazônia.
Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos – equivalente ao Ministério da Justiça no Brasil – a empresa suíça reconheceu atividades ilegais na Nigéria, Camarões, Costa do Marfim, Guiné Equatorial, Venezuela e República Democrática do Congo, além do Brasil, onde admitiu ter subornado funcionários da Petrobras.
A culpa foi declarada após acordo resultante de investigações que duraram uma década e envolveram autoridades criminais nos Estados Unidos e Reino Unido, além do Ministério Público Federal (MPF) brasileiro. A informação é do portal Brasil Mineral.
Expansão dos negócios no Brasil
A Glencore é autora de três pedidos de mineração sobrepostos a Terras Indígenas brasileiras, segundo aponta a quarta edição do relatório Cumplicidade na Destruição, elaborado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e publicado em fevereiro deste ano.
Os pedidos são para exploração de ouro e cobre e totalizam 13 mil hectares. As requisições invadem as terras Kayapó e Xikrin do Rio Cateté, já impactadas pela atuação da Vale SA.
Segundo a Apib, a empresa tem expandido seus negócios no Brasil. Recentemente, tornou-se a principal acionista da CSN Mineração, uma das principais companhias de exploração de minério de ferro no país.
Indenização à Petrobras
O acordo com as autoridades brasileiras foi firmado pela Glencore Ltd., braço comercial do grupo que opera a venda de commodities em todo o mundo. Segundo o MPF, o grupo confessou “diversos atos de corrupção relacionados a esquemas de pagamento de valores indevidos” para obter benefícios ilícitos da Petrobras.
O dinheiro da propina era repassado pela empresa a um intermediário, que por sua vez fazia pagamentos a funcionários da Petrobras. A quantia era liberada em troca de vantagens na compra e venda de combustíveis realizados pela estatal brasileira no mercado internacional.
O acordo prevê que a Petrobras deve receber da Glencore US$ 39,6 milhões (R$ 190 milhões) em parcela única. O valor corresponde à reparação de danos e reversão de vantagens indevidas, além de multas previstas na Lei de Improbidade Administrativa e na Lei Anticorrupção.
Mais crimes
Com base em provas fornecidas pela Glencore, o MPF afirma que vai expandir as negociações, mirando atividades de prepostos, empregados e administradores das empresas do grupo.
A empresa se comprometeu a apresentar informações e provas relevantes, a identificar os envolvidos nas ilegalidades e a adotar medidas de integridade e transparência.
A companhia também admitiu manipular os preços do petróleo em dois grandes portos dos EUA durante de oito anos. Pelos crimes, a multa chegou a US$ 485 milhões (R$ 2,34 bilhões).
Outras acusações de suborno foram apresentadas contra a Glencore Energy UK pelo Escritório de Fraudes Graves do Reino Unido. A empresa se declarou culpada, e o julgamento está marcado para o próximo dia 21.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também
Zema coloca prima de chefe de mineradora em órgão que decide mineração na Serra do Curral
Por Agência Pública
PL da mineração em terras indígenas pode levar à perda de 160 km² na Amazônia
Por Marina Verenicz



