Sociedade

Militares culpam catador por morte de músico com 80 tiros no Rio de Janeiro

O Ministério Público Militar pediu a condenação de oito militares e a absolvição de quatro, envolvidos na ação, mas que não atiraram

Evaldo Rosa dos Santos. Foto: Reprodução
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O advogado dos 12 militares que respondem na Justiça Militar pelo assassinato do músico Evaldo Rosa, em 2019, acusou sem apresentar evidências o catador de latinhas Luciano Macedo, que morreu na mesma ação, em Guadalupe, zona oeste do Rio de Janeiro. O julgamento começou nesta quarta-feira 13.

Uma perícia concluída no fim de 2019 revelou a destruição provocada pelos militares: ao longo de 200 metros da Estrada do Camboatá, foram encontradas 37 de marcas de disparos de armas de fogo em muros, carros, grades e paredes.

À época, segundo o laudo divulgado pelo jornal Extra, os profissionais constataram que os tiros disparados por fuzis partiram da estrada – de onde vinham os veículos militares – em direção ao ponto por onde passou o carro dirigido por Evaldo.

Na ocasião, militares do Exército supostamente “confundiram” o carro da família de Evaldo com o de assaltantes e dispararam mais de 80 tiros contra o veículo. A perícia concluiu que, ao todo, foram disparados 257 tiros.

De acordo com o UOL, o advogado Paulo Henrique de Mello, que defende os militares, acusou Luciano Macedo de ser olheiro do tráfico e autor do tiro que matou Evaldo. Viúva de Macedo, Dayana Fernandes demonstrou indignação com o desenrolar do julgamento.

“É revoltante, eu estou indignada. Estão insinuando que meu marido tinha envolvimento com o tráfico da região, que meu marido foi culpado pelo que aconteceu com o Evaldo. É muito fácil acusar quem já está morto e não pode se defender. Enquanto isso, o Exército mata quem eles querem. O Luciano já tinha saído do tráfico há muito tempo, já tinha saído dessa vida”, disse Dayana, citada pelo site.

O Ministério Público Militar pediu a condenação de oito militares e a absolvição de outros quatro, envolvidos na ação, mas que supostamente não atiraram.

Assistente de acusação, o advogado André Perecmanis afirmou no julgamento que uma absolvição representaria impunidade.

“As Forças Armadas não ensinam a executar pessoas. Mas uma absolvição hoje traria essa mensagem: duas crianças perderam o pai, famílias foram destroçadas e fica por isso mesmo”, argumentou Perecmanis.

O julgamento se dará por um conselho composto por cinco membros: a juíza federal substituta Mariana Aquino; e os juízes militares Tenente Coronel Sandra Fernandes de Oliveira Monteiro, Major Rêmulo Dias de Carvalho, Major José Adail da Silva Ferreira e Capitão Tentando Perotti Honori.

Eis os militares que, segundo o MPM, devem ser condenados:

  • Tenente Ítalo da Silva Nunes
  • Sargento Fábio Henrique Souza Braz da Silva
  • Cabo Leonardo Oliveira de Souza
  • Soldado Gabriel Christian Honorato
  • Soldado Matheus Sant’Anna
  • Soldado Marlon Conceição da Silva
  • Soldado João Lucas da Costa Gonçalo
  • Soldado Gabriel da Silva de Barros Lins

E eis os militares que, na visão do MPM, devem ser absolvidos:

  • Cabo Paulo Henrique Araújo Leite
  • Soldado Wilian Patrick Pinto Nascimento
  • Soldado Vitor Borges de Oliveira
  • Soldado Leonardo Delfino Costa

“Os acusados definitivamente, por prova segura e inconteste dos autos, não estavam em situação de legítima defesa. Os militares apertaram os gatilhos de seus fuzis sem previamente certificarem-se de quem eram as pessoas à sua frente”, sustentaram a promotora Najla Nassif Palma e o procurador de Justiça Militar Luciano Gorrilhas, nas alegações finais.

Segundo eles, os militares dispararam “porque desejavam executar as pessoas que estavam dentro do veículo, acreditando que ali se encontravam os criminosos com quem haviam trocado disparos anteriormente”.

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