Sociedade

Maioria dos brasileiros reconhece que uma pessoa negra tem mais chance de ser morta pela polícia

Pesquisa encomendada pela Central Única de Favelas evidencia fatores sociais e econômicos que perpetuam e naturalizam o racismo no País

Maioria dos brasileiros reconhece que uma pessoa negra tem mais chance de ser morta pela polícia
Maioria dos brasileiros reconhece que uma pessoa negra tem mais chance de ser morta pela polícia
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A população brasileira reconhece que a cor da pele de uma pessoa faz diferença no tratamento que ela receberá da polícia e em suas chances de trabalhar e estudar. A conclusão é da pesquisa “As faces do Racismo” realizada pelo Instituto Locomotiva para a Central Única das Favelas (CUFA) e divulgada nesta quarta-feira 17.

Para 94% dos entrevistados, uma pessoa negra tem mais chances de ser abordada de forma violenta pela polícia, bem como ser morta; 91% dos entrevistados entendem ser mais fácil para uma pessoa branca conseguir um emprego; 85% também veem mais chances de uma pessoa branca conseguir cursar uma faculdade.

A pesquisa teve uma base de 3201 entrevistados alcançados em duas fases metodológicas. Em uma atuação a campo (feita por telefone por conta da pandemia) foram aplicados 1459 questionários em 72 cidades de todos os estados do país. Participaram homens e mulheres, das classes A, B, C, D  e E, com idades entre 16 e 69 anos de idade. Na parte online, foram colhidos 1652 questionários aplicados a pessoas de todos os estados da federação, com pessoas de mesmo perfil.

De modo geral, o estudo evidencia aspectos sociais e econômicos que ainda precisam ser superados para a desconstrução do racismo estrutural e naturalizado pela sociedade brasileira. Veja a pesquisa completa.

Embora a quase totalidade dos entrevistados (93%) entenda que o combate ao racismo é uma luta de todas as pessoas, e que o racismo está na sociedade brasileira (62%) e não só em algumas pessoas (38%), a maioria ainda acha que os brancos também são vítimas de racismo (53%), enquanto 47% afirmam que o branco não sofre racismo.

Também chama a atenção o fato da maior parte dos entrevistados julgar que a agenda antirracista é marcada por uma “patrulha do politicamente correto”. 58% dos entrevistados concordam que a patrulha do politicamente correto está deixando o mundo chato; e embora a maioria (60%) veja problemas em fazer piadas sobre pessoas negras, 18% veem a questão com naturalidade.

O estudo ainda pediu aos entrevistados que, a partir da comparação entre um rosto branco e um negro, fizessem projeções sobre trajetória de estudo de cada indivíduo, ocupação no mercado de trabalho, ou posição sócio econômica na sociedade. A comparação foi feita entre homens brancos e negros; e mulheres brancas e negras.

Em todos os casos, os perfis brancos foram associados a cargos de maior prestígio na sociedade, bem como a posições sociais mais favorecidas.


No caso da comparação feita entre mulheres negras e brancas, a maioria dos entrevistados associou à mulher negra a possibilidade de ser empregada doméstica, criar dois filhos sozinha, ou de já ter sido presa.


Ainda de acordo com o estudo, 3 em cada 10 pessoas negras já foram seguidas por seguranças de lojas quando presentes nesses estabelecimentos. O percentual sobe para 50% entre as pessoas pretas. Cerca de 21% evitam usar determinado tipo de roupa ou acessório por medo de ser confundidos com um assaltante; o dado sobe para 39% entre as pessoas pretas. 17% das pessoas negras também já foram solicitadas que prendessem ou mudassem seus cabelos pelas escolas; entre as pessoas pretas, o índice vai a 20%.

Desigualdades socioeconômicas

Para além dos aspectos de percepção dos entrevistados, o estudo mostrou distorções que as pessoas negras ainda têm de enfrentar quando comparadas aos brancos, caso do mercado de trabalho.

A pesquisa mostra que os negros ocupam posições mais precárias no mundo do trabalho e alcançam menor renda. 38% de não negros encontram-se em empregos no setor privado com carteira assinada; os negros são 34%. O cenário se inverte quando se avalia o trabalho por contra própria, os negros são 27%, contra 25% de não negros; e o trabalho informal, ocupado por 14% de negros, contra 10% de não negros.

A média salarial entre as pessoas negras e não negras revela uma disparidade atrelada ao fator raça. O levantamento mostra que, de maneira geral, a média de salário de uma pessoa negra é de R$ 1.764,00 ao passo que de uma pessoa branca é de R$ 3.100,00. Essa disparidade se torna ainda maior conforme se avaliam os grupos de maior poder aquisitivo. Entre os 95% dos entrevistados com maior poder econômico, a renda de um negro é de R$ 4.591, e a de uma branco, R$ 10.187, ou seja, 2,2 vezes maior.

Embora maioria no País, 56% dos brasileiros se declaram pretos ou pardos, um total de 118,9 milhões de pessoas, eles são apenas 19% das classes A e B do país; os brancos são maioria, 42%. Os negros se encontram em maioria nas classes C – 60% contra 40% de brancos – e D e E – 74% de negros contra 26% de brancos.

Outro fator que perpetua essa desigualdade econômica entre a população negra é a menor escolaridade entre esta parcela da população. O estudo mostrou o índice entre pessoas com 25 anos ou mais. 11% dos negros apresentam Ensino Superior, contra 25% dos brancos. Também é  maior a falta de escolaridade entre os negros (8%) quando comparados aos brancos (4%).

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