Sociedade

Maioria das famílias não se sente preparada para utilizar o controle parental nas redes sociais, diz pesquisa

O ECA Digital, aprovado após o viral do Felca sobre ‘adultização’, estabelece regras para a presença de menores de idade nas redes, como verificação de idade e ferramentas de supervisão familiar

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Foto: Domínio Público
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Uma das principais consequências da denúncia feita pelo influenciador Felca sobre a exposição de crianças e adolescentes na internet foi a sanção de uma lei federal, batizada de ECA Digital, que estabelece regras para a presença de menores de idade nas redes sociais, entre elas verificação de idade e ferramentas de controle parental.

Ainda assim, a maioria das famílias não se sente preparada para utilizar os recursos de supervisão familiar. São 63% os que fazem essa afirmação, segundo pesquisa lançada nesta quinta-feira 11 pelo projeto Brief, plataforma dedicada a fortalecer a comunicação progressista baseada em dados e a mapear narrativas de impacto social e político no Brasil. Apenas 37% dos pais e responsáveis dizem saber usar as ferramentas de controle parental adotadas após o ECA Digital.

O levantamento também aponta que 45% já ouviram falar dos recursos, mas não os utilizam. Outros 18% disseram que nunca tiveram contato com o termo.

O grau de desconhecimento do ECA Digital é alto, segundo a mesma pesquisa: apenas 36% dos entrevistados já ouviram o termo, e só 15% desses sabem o que ele realmente significa.

A despeito da falta de preparo para o controle online dos filhos, o tema gera um raro consenso entre as famílias brasileiras: oito em cada dez brasileiros apoiam a regulação das redes para proteger crianças e adolescentes nos ambientes digitais, independente da posição política ou ideológica. São 90% dos eleitores do presidente Lula (PT) que defendem a criação de regras para limitar a exposição de menores; em relação aos eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o índice é de 73%.

Para o coordenador-geral do projeto Brief, Ricardo Borges Martins, os resultados colhidos após 120 dias do efeito viral Felca reforçam a urgência de conversas públicas profundas sobre infância, tecnologia e responsabilidade coletiva. A percepção do especialista é a de que se, por um lado, a sociedade brasileira demonstra maturidade ao reconhecer a necessidade de regras, regulamentações e limites no ambiente digital, por outro, ainda carece de informação, preparo técnico e orientação sobre como agir.

“A proteção de crianças e adolescentes nas redes exige mais do que legislação: requer educação midiática, engajamento das plataformas e participação ativa de famílias, escolas e criadores de conteúdo, pilares essenciais para reconstruir uma internet mais segura e saudável para as próximas gerações e para a formação cidadã das crianças de hoje”, avaliou.

Crianças com celulares

Os dados evidenciam também a forte presença de crianças e adolescentes em ambientes digitais, sobretudo via celulares. Quase oito em cada dez crianças e adolescentes brasileiros já têm um aparelho para chamar de seu (o que não inclui, por exemplo, crianças com tablets, computadores ou acesso livre ao celular dos pais).

Entre os adolescentes de 13 a 18 anos o índice daqueles que possuem um aparelho próprio salta para 92%. No recorte de 8 a 12 anos de idade, o percentual é de 63%. Só 28% das crianças de até 7 anos possuem um celular próprio.

Mais da metade desse público (53%) passa mais de 3 horas por dia no aparelho. Uma em cada quatro passa mais de 5 horas diárias conectado.

Ainda de acordo com a pesquisa, sete em cada dez crianças têm pelo menos um perfil ativo nas redes, mesmo nas faixas etárias em que isso seria proibido. Entre adolescentes de 13 a 18 anos, 91% têm redes sociais; entre crianças de 8 a 12 anos, 65%; e até 7 anos, 28%.

O ECA Digital, convém registrar, estabeleceu que contas de redes sociais para menores de 16 anos devem estar vinculadas aos responsáveis legais.

As redes mais usadas

Entre as plataformas utilizadas o Youtube aparece no topo (82%), seguido do Whatsapp (78%), Instagram (65%) e TikTok (59%). A pesquisa também menciona os jogos Roblox (28%) e Freefire (21%) como aplicativos mais utilizados.

Na pesquisa, 35% dos pais afirmaram que os filhos postam conteúdos sozinhos, sem supervisão. A condição contrasta com o percentual de meninos e meninas que relataram já ter passado por experiências negativas nas redes sociais (21%). Segundo Brief, 8% sofreram assédio, abuso ou ataques – índice que dobra entre meninas de 13 a 15 anos.

De quem é a responsabilidade?

O levantamento também aferiu a percepção sobre a responsabilidade de cuidar de crianças e adolescentes nas redes sociais: 82% atribuem a tarefa aos pais; 76% às plataformas; 61% ao governo; 37% aos influenciadores; e 32% às escolas e aos professores.

A pesquisa, aplicada digitalmente, teve abrangência nacional e mediu a percepção de pessoas com mais de 18 anos.

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