Justiça
Justiça quebra sigilo telemático de empresário preso por assassinar gari em Belo Horizonte
Além das mensagens trocadas em aplicativos como o WhatsApp, os investigadores terão acesso também aos dados sobre deslocamento do carro de René Nogueira Jr.


A Justiça de Minas Gerais autorizou a quebra do sigilo telemático do empresário René da Silva Nogueira Junior, acusado de assassinar o gari Laudemir de Souza Fernandes, após uma discussão de trânsito em Belo Horizonte na última segunda-feira 11. Com a decisão, além das mensagens trocadas em aplicativos como o WhatsApp, os investigadores terão acesso também aos dados sobre deslocamento do carro do empresário no dia da morte.
Em decisão assinada pela juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, da 1ª Vara Criminal da capital mineira, a Justiça determina que a operadora do telefone celular de René libere os registros de chamadas, mensagens e outros dados entre 7h e 16h da segunda-feira, dia da morte do gari. Já a montadora do carro deverá fornecer os dados dos sistemas de navegação. As empresas têm até cinco dias para enviar as informações.
O pedido de quebra do sigilo foi feito pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), que investiga o caso. A Justiça entendeu que o acesso aos registros é fundamental para a apuração.
A CartaCapital, o advogado Tiago Lenoir, que representa a família de Fernandes, afirmou que a medida vai permitir o avanço das investigações e o esclarecimento da dinâmica do crime. “É um passo importante para que a verdade venha à tona e para que todos os responsáveis sejam levados a julgamento”, disse.
Nogueira Junior foi preso em flagrante no dia da morte de Laudemir Fernandes. Na terça-feira 12, após audiência de custódia, a Justiça converteu a prisão em preventiva – ou seja, não há prazo para a soltura.
Ele é acusado de ter alvejado o gari após uma discussão de trânsito. Ele teria se irritado com o espaço ocupado pelo caminhão de lixo em uma rua e exigido à motorista que saísse, sob ameaças. Segundo depoimento, Fernandes e outros colegas intercederam em defesa da colega e o empresário, então, disparou, fugindo em seguida. Horas depois, os policiais o localizram em uma academia.
Na ata da audiência de custódia, o juiz Leonardo Vieira Rocha Damasceno destacou que a ação foi “desproporcional e fria”. O documento também afirma que o empresário tem “periculosidade acentuada e total desrespeito pela vida humana”.
A vítima chegou a ser socorrida e encaminhada ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, mas morreu. Ao realizar perícia no local do crime, a polícia recolheu dois cartuchos de arma calibre .380.
Em nota, a Localix, empresa terceirizada de coleta de lixo, para a qual Fernandes trabalhava, lamentou a morte e disse que o trabalhador foi vítima de “um ato de violência injustificável ocorrido durante a execução de seu trabalho”. A empresa afirmou que está prestando apoio à família e aos colegas.
A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), vinculada à prefeitura de Belo Horizonte, também destacou que ele trabalhava quando foi assassinado. O prefeito da capital mineira, Álvaro Damião (União Brasil) afirmou que o crime é “estarrecedor diante da causa banal que o gerou”.
Quem era o empresário
René Junior, cuja página no Instagram (agora desativada) tinha a descrição “christian, husband, father & patriot” – ou cristão, marido, pai e patriota, em tradução para o português – é casado com uma delegada da Polícia Civil. Por conta dessa relação, a PCMG abriu inquérito sobre o caso.
Segundo o portal Metrópoles, apesar de ter negado o crime, ele confirmou em depoimento que portava arma da esposa.
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