Sociedade
‘Governo? Nem sei se existe’, diz mãe de Ágatha Felix
Mãe de menina morta pela polícia diz não ter tido nenhuma assistência do governo. Na sexta, mais duas crianças foram assassinadas
Mais de um ano ano após o assassinato de Agatha Félix, garota de 4 anos atingida por um tiro de fuzil enquanto estava dentro de uma van no Complexo do Alemão (RJ), outras duas mortes de crianças negras tomam o noticiário: as primas Emilly Victoria e Rebeca Beatriz Rodrigues, de 4 e 7 anos, respectivamente, foram mortas na sexta-feira 4 por balas que teriam partido de policiais militares.
Para a mãe de Ágatha, que vê agora outras famílias passando pelo o que passou, não houve, até então, qualquer medida do Estado para reparar minimamente a perda de sua filha.
“Governo? Nem sei se existe. Não tive nenhuma assistência de governo. Tá tendo governador? Tá tendo exercício? Não tem. Pra mim não teve. Prefeito? Pra mim não teve. Não teve nenhuma. Eu tive assistência da Ordem dos Advogados do Brasil e algumas ONGs de dentro do Complexo do Alemão. Os moradores e nós familiares que estamos lutando”, afirmou Vanessa Félix, nesta segunda-feira 7, em entrevista ao vivo à GloboNews.
A audiência que iria interrogar o PM Rodrigo José de Matos Soares, acusado de apontar os disparos, foi adiada pela segunda vez para abril de 2021 após o policial ter sido diagnosticado com Covid-19.
Vanessa conta que o processo de investigação também é um processo de dor à parte da morte de Ágatha. “É muita dor, é muito sofrimento que a gente passa, que a gente vive, e ainda ter uma reconstituição de provar o que a gente viu, de provar o que realmente aconteceu e a polícia, que é para nos defender, nega a todo momento que não fez aquilo que fez”, disse.
Enterro de primas foi marcado por dor e indignação
Emilly e Rebeca estavam brincando em frente ao portão de casa, na comunidade do Barro Vermelho (RJ), quando foram atingidas pelos disparos. A avó de Rebeca afirmou que viu policiais atirarem de uma viatura, mas que não havia nenhum confronto com suspeitos no momento.
O pai de Emilly, Alexsandro, teve que ser amparado no enterro após passar mal. Mesmo assim, fechou o túmulo em que as crianças foram colocadas com as próprias mãos.
“Estamos enterrando mais uma vítima da violência na nossa comunidade. Duas crianças, minha filha e minha sobrinha. Estão aí os governadores, que só querem ganhar dinheiro nas costas dos outros. Estou enterrando a minha filha, que não viveu nada”, afirmou.
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