Sociedade

Freixo: Assassinato de Marielle é o atestado de óbito do Rio

Nesta terça-feira 8, as mortes da ex-vereadora e de Anderson Gomes completam 1000 dias sem esclarecimentos sobre o mandante

Foto: Reprodução/redes sociais Foto: Reprodução/redes sociais
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O assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, completa 1000 dias nesta terça-feira 8. O crime, ainda sem descoberta do mandante, ocorreu no dia 14 de março de 2018.

Na segunda-feira 7, o deputado federal Marcelo Freixo, companheiro de partido da ex-vereadora, afirmou que a morte é uma espécie de atestado de óbito da capital fluminense.

“O assassinato de Marielle é o atestado de óbito do Rio de Janeiro. Quem morre não é a Marielle, quem morre é uma perspectivade cidade”, disse o deputado durante a live do Carta nas Eleições.

Em novembro, Monica Benicio, viúva de Marielle, falou com CartaCapital como o legado da ex-vereadora a incentivou a entrar na política.

“O meu desejo era levar o meu fazer político para dentro da academia. Agora, é óbvio que isso se modifica após a execução da Marielle. E a decisão também vem baseada na escuta que mencionei anteriormente. Muitas pessoas vieram me pedir para disputar este lugar. Pessoas que têm participação nos movimentos sociais e que eu eu respeito muito politicamente, amigos que estavam ali na construção do meu ativismo nesses mais de dois anos e meio sem Marielle e Anderson, período em que o meu fazer político ficou muito voltado para a luta por Justiça. Eu rodei o mundo inteiro cobrando Justiça das autoridades, para que respondam quem os mandou matar, e para que levam a julgamento os executores. É uma luta muito dura, dolorosa, porque é diariamente reviver e relembrar a tragédia que atravessou as nossas vidas. Sem dúvida nenhuma isso foi uma coisa que me colocou em outro lugar politicamente, e a decisão de vir candidata veio com muita escuta dessas pessoas que acreditavam que o projeto pode melhorar o Rio de Janeiro, que o mandato pode voltar a dar esperança para as pessoas nessa cidade”, disse.

“A Marielle se torna um símbolo de representatividade, de resistência, de luta para as mulheres, sobretudo as mulheres negras, de uma luta antirracista, contra a LGBTfobia. Então, estar nesse lugar onde muitas pessoas me veem como parte desse processo, capaz de dar continuidade a isso, é sem dúvida nenhuma muita responsabilidade. Agora, legado não é só o que se deixa, mas também o que se leva adiante e eu vou fazer o máximo possível para que as expectativas não sejam frustradas e que a gente possa fazer um grande trabalho”, acrescentou.

Durante o dia, a Anistia Internacional e o Instituto Marielle Franco lançam o Despertador da Justiça, um protesto, na Cinelândia e nas redes sociais, “com o objetivo de romper o silêncio das autoridades”.

“Não podemos aceitar a falta de respostas e de responsabilização desse crime brutal contra uma defensora de direitos humanos e vereadora eleita. Hoje, nesse marco de 1000 dias que coincidem com o Dia da Justiça, precisamos, de fato, despertar para a Justiça. Por Marielle, por Anderson e por todas as populações mais vulnerabilizadas. A trajetória de Marielle Franco – e o legado impulsionado pela mobilização social, física e digital que seu assassinato causou – precisa prosseguir. O silenciamento de seu mandato é a maior representação da perseguição a quem defende uma sociedade verdadeiramente justa”, disse Jurema Werneck, Diretora Executiva da Anistia Internacional.

Para participar virtualmente da manifestação, use a hashtag #1000DiasSemRespostas.

Os organizadores alertam que outra maneira de participar é assinando uma petição, no endereço https://bit.ly/mariellejustiça, para pressionar por justiça.

O Instituto Marielle Franco abriu inscrição para voluntárias que queiram se mobilizar na luta por justiça. Para se inscrever basta acessar: institutomariellefranco.org/voluntarias.

Cronologia

Em 14 de março de 2018, Marielle e Anderson foram mortos a tiros ao saírem de evento no centro do Rio.

A investigação se inicia e, em novembro daquele ano,  a Polícia Federal (PF) entra no caso para apurar denúncias de irregularidades e interferências no trabalho da Polícia Civil e do Ministério Público estadual.

O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz foram presos e acusados pelo Ministério Público estadual pela execução do crime em março de 2019.

Dias depois, a delegacia responsável pela apuração do caso troca de comando: Giniton Lages é substituído por Daniel Rosa na condução da segunda fase.

Com base na investigação da PF, a então procuradora-geral Raquel Dodge pede a federalização das investigações.

Em outubro, o Jornal Nacional, da Rede Globo, divulga que um porteiro do condomínio Vivendas da Barra disse à polícia que foi Bolsonaro quem liberou a entrada de Élcio no dia do crime. Bolsonaro, porém, estava em Brasília e o Ministério Público apurou que essa versão era falsa

Já em 2020, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decide que caso não seria federalizado por unanimidade, oito votos a zero.

O tribunal do júri contra Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz ainda não tem data para acontecer, já que a defesa entrou com novo recurso no Tribunal de Justiça.

Os mandantes do crime não foram identificados.

A trajetória

Marielle se formou pela PUC-Rio, e fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação teve como tema: “UPP: a redução da favela a três letras”.

Iniciou sua militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré.

Trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e construía diversos coletivos e movimentos feministas, negros e de favelas.

Aos 19 anos, se tornou mãe de uma menina. Isso a ajudou a se constituir como lutadora pelos direitos das mulheres e debater esse tema nas favelas.

Foi eleita Vereadora da Câmara do Rio de Janeiro, com 46.502 votos e, depois, presidente da Comissão da Mulher da Câmara.

No dia 14/03/2018 foi assassinada em um atentado ao carro onde estava. Ao todo, 13 tiros atingiram o veículo, matando também o motorista Anderson Pedro Gomes.

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