Sociedade
Ex-presidente do IBGE questiona dados preliminares do Censo 2022: ‘Tragédia absoluta’
Roberto Olinto defende a realização de uma auditoria externa e diz que decisões metodológicas e orçamentárias equivocadas podem ter gerado dados não confiáveis
O ex-presidente do IBGE, Roberto Olinto, defende a realização de auditoria sobre os dados preliminares do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo IBGE em dezembro, por entender que as informações não são ‘confiáveis’.
O especialista criticou decisões técnicas, metodológicas e orçamentárias tomadas pela presidente do instituto, Susana Cordeiro Guerra, que ficou à frente do posto de 2019 a 2021, e avalia que o conjunto de ações pode ter impactado a confiabilidade dos dados.
“[Cordeiro Guerra] Começou, de forma extremamente prepotente, a mexer em todo o projeto. Reduziu o questionário, interferindo num projeto discutido com a sociedade civil. Diminuiu o orçamento, de R$ 3,4 bilhões para R$ 2,3 bilhões, sem nem tentar manter o que estava previsto. Exonerou o diretor de pesquisas e o diretor de informática”, disse, em entrevista à Folha de São Paulo. “Um projeto que já vinha sendo trabalhado há cinco anos tem uma intervenção não só técnica, mas exonerando pessoas muito envolvidas e experientes.”
Olinto também expôs outras questões que fizeram com que a coleta de dados, geralmente feita em dois meses, não tenha sido finalizada até o momento, como treinamento reduzido aos recenseadores, atraso de pagamento da equipe, e baixa de recenseadores, como consequência. “Tragédia absoluta.”.
Olinto afirma que os dados preliminares trouxeram aferições ‘absolutamente inexplicáveis’, e citou como exemplo o fato de todos os municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro terem tido queda de população em relação a 2010. O problema, segundo o ex-presidente, se deve ao fato de a pesquisa ter imputado dados a cerca de 20% da população.
“Eles imputaram dados para quase 20% da população. Imputar dado é você dizer: eu não tenho dados para 20% da população e vou usar um processo que normalmente se usa para 2%. Nenhum Censo cobre 100% da população, mas você tem uma alta cobertura. E tem problemas em algumas variáveis. Renda, população, idade. Não é uma coisa do tipo ‘eu não tenho informação de metade do município’. E o que estão fazendo? Estão imputando questionários inteiros”, esclareceu.
O ex-presidente defende que seja realizada uma auditoria independente capaz de validar os dados apresentados e não descarta a necessidade de se ter que fazer um novo Censo.
“Para ter o Censo confiável, tem que auditar. É tanto problema pregresso que tem que parar, respirar e dizer o seguinte: vamos avaliar. Uma comissão independente, obviamente com pessoas do IBGE e de fora, para dizer o seguinte: esses dados da população brasileira e suas variáveis são válidos e respeitáveis. Ou dizer: não são válidos, existem problemas e temos que discutir uma solução para isso. Pergunta: jogamos R$ 2,3 bilhões no lixo ou não?”, questionou.
Para Olinto, a auditoria poderia indicar três caminhos possíveis para os dados preliminares já divulgados: “A auditoria vai dizer que está bom — duvido. A auditoria vai dizer ‘existem partes que são aproveitáveis, mas nós temos que corrigir assim, assim, assado’. E existe a terceira alternativa: o Censo está uma porcaria completa, vamos refazê-lo. Não dá para tratar o Censo como se fosse uma brincadeira. É fundamental para a história do Brasil”.
Em nota, o IBGE refutou as críticas e disse que a metodologia da estimativa apresentada foi aprovada pelo conselho consultivo do Censo, formado por economistas, demógrafos e estatísticos como representantes da sociedade civil.
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