Cultura

Equipe de filme brasileiro faz protesto contra marco temporal no tapete vermelho de Cannes

O longa, filmado durante 15 meses, aborda um dos temas mais urgentes para todos os povos indígenas do Brasil: a demarcação de terras

A equipe do "A Flor do Buriti" protestou no tapete vermelho do Festival de Cannes contra o marco temporal na noite dessa quarta-feira, 24 de maio de 2023. Foto: Divulgação/Entre Filmes
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“A Flor do Buriti”, sobre a resistência do povo Krahô do norte de Tocantins, concorre na mostra “Um Certo Olhar”. A equipe do filme, codirigido pelo português João Salaviza e pela brasileira Renée Nader Messora, protestou no tapete vermelho do Festival de Cannes contra o marco temporal na noite dessa quarta-feira (24).

A equipe do filme segurou na escadaria do Palácio dos Festivais, diante dos fotógrafos do mundo todo, uma faixa com os dizeres: não ao marco temporal, the future of indigenous lands in Brazil is under threat (o futuro das terras indígenas brasileiras está ameaçado). Participaram do ato os diretores Renée Nader Messora e João Salaviza, os indígenas Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô, Ihjãc Henrique Krahô, que também assinam o roteiro de “Crowrã, A Flor do Buriti”, a produtora Julia Alves, entre outros.

A produção luso-brasileira, que concorre na mostra Um Certo Olhar, estreou na terça-feira (23) e foi recebida com entusiasmo pela plateia, sendo aplaudido por vários minutos, e teve boas críticas na imprensa francesa.

Críticas

Libération escreveu que o filme mistura cenas oníricas e fragmentos da vida cotidiana para mostrar a luta pela sobrevivência dos Krahô. “Um trabalho honesto que explícita a tensão entre a preservação de um legado cultural e a aspiração à modernidade”, diz jornal. “’A Flor do Buriti” é a alma que esconde a floresta, resume o título da matéria. Le Monde diz que o filme tem “uma grande magia poética”.

Com o novo longa, a dupla luso-brasileira dá continuidade à colaboração de longos anos dos diretores com a indígena de Pedra Branca. Em 2018, os diretores venceram o Prêmio Especial do Júri, na mesma mostra, com “A Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, também sobre a mesma comunidade. “E importante sublinhar é que o nosso projeto com os Krahôs não é um projeto artístico, é um projeto de vida”, disse à RFI João Salaviza, após a estreia do filme em Cannes.

História de luta e formas de resistência

A narrativa, feita coletivamente pelos indígenas, mostra como os krahôs veem o mundo e revela os últimos 80 anos da história da comunidade, desde um massacre que foram vítimas em 1940 até a resistência ao governo Bolsonaro. O longa, filmado durante 15 meses, aborda um dos temas mais urgentes para todos os povos indígenas do Brasil: a demarcação de terras e a revisão do marco temporal.

“É muito importante que Cannes abra espaço para essa visibilidade fora do Brasil também, porque é uma luta que tem que ser travada a nível global. A demarcação das terras indígenas não tem a ver só com os povos indígenas, ela tem a ver com a nossa sobrevivência no planeta, enquanto humanidade”, ressaltou Renée Nader Messora, em entrevista à RFI.

Os vencedores da mostra Um Certo Olhar serão conhecidos no sábado (27), durante a cerimônia de encerramento do Festival de Cannes.

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