Sociedade

‘Ditadura nunca mais’ é tema de protesto contra falas de Bolsonaro

Ato em São Paulo repudiou recentes falas de Jair Bolsonaro em relação à ditadura e relembrou desaparecidos políticos

(Foto: Ravi Santana/CartaCapital)
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“Gerações que se encontram mais uma vez nas ruas”, disse a manifestante no carro de som. As músicas que tocavam eram de Belchior, Chico Buarque e Caetano Veloso, e ficaram conhecidas por serem censuradas no regime ditatorial. Na noite desta segunda-feira 05, eles voltaram a tocar como protesto. Centenas participaram de manifestação em São Paulo contra as falas do presidente Jair Bolsonaro sobre prisões políticas nos anos de chumbo, e o mote era claro: “ditadura nunca mais”.

Organizado pela Frente Povo Sem Medo, iniciativa popular que reúne organizações como o MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto) e a CUT (Central Única dos Trabalhadores), o ato seguiu da Avenida Paulista até um endereço chave para o Estado repressor a partir de 1964: o antigo DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), aparato do Exército utilizado para prender, torturar e até matar alvos políticos.

Eleonora Menicucci, ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres no governo de Dilma Rousseff, foi vítima da tortura do antigo DOI-CODI paulista e disse ter a ‘honra’ de ter sobrevivido “para contar o que foi a ditadura, o que é a tortura, o que é o assassinato”. Aos 74 anos, olha para as declarações de Bolsonaro como provas de uma conivência com crimes contra direitos humanos na época do regime e hoje, e percebe um desgaste político por parte do presidente.

“Eu acredito que [a popularidade de Bolsonaro] está minando. A minha avaliação é que ele ainda é segurado pelas Forças Armadas e pelo mercado – até aprovar todas essas maldades das contrarreformas. Ele está se desidratando. Isso não significa que ele vai cair ou ser retirado”, avaliou Menicucci, que também é cientista social.

Eleonora Menicucci em ato contra as falas de Bolsonaro sobre a ditadura. (Foto: Ravi Santana/CartaCapital)

Jair Bolsonaro nunca negou sua visão pelo regime ditatorial, que sempre exaltara como deputado, mas uma recente fala dirigida ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, gerou revolta em familiares de desaparecidos políticos, na oposição e até mesmo em antigos aliados. Depois, Bolsonaro trocou quatro membros da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), responsável por emitir certidão de óbito de Fernando Santa Cruz como assassinado pelo Estado, por assessores do PSL e militares.

Segurando cartazes com nomes como Helenira Rezende, Ieda Delgado e Iara Iavelberg, a estudante Gabriela Torres, aos 18 anos, nasceu longe de um período ditatorial, mas teme o que vê agora. As mulheres que a jovem homenageava fazem parte dos 434 nomes apontados pela Comissão Nacional da Verdade como os de mortos e desaparecidos políticos.

Em sua maioria, as mulheres dos cartazes eram militantes de esquerda como Torres, que atua pelo Movimento de Mulheres Olga Benário. Mesmo nas ruas, protestando, ela sente medo. “Eu me sinto atacada. Essas mulheres deram não só o seu suor, mas o seu sangue para que a gente nunca mais chegasse próximo ao que aconteceu naqueles anos. A gente nunca esteve tão perto deles [dos anos da ditadura] de novo”, afirmou.

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